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Ex-presidente do Banco Espírito Santo está a ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito.

EM DIRECTO
Paulo Pena, Cristina Ferreira, Pedro Crisóstomo e Hugo Daniel Sousa - 09/12/2014 - 08:50
Hoje é o dia das explicações de Ricardo Salgado. Pela primeira vez, o ex-presidente do BES responde a perguntas sobre a queda do banco. Está a ser ouvido desde as 9h
Intervenção de Ricardo Salgado na 
           comissão de inquérito ao BES
9 de Dezembro de 2014
08:48 - Faltam menos de 15 minutos para o início da mais aguardada das audições da Comissão Parlamentar de Inquérito à gestão do GES/BES. Ricardo Espírito Santo Salgado, o homem que era conhecido, no auge do seu poder, por “dono disto tudo”, prepara-se para responder às dúvidas dos deputados. Poderá iniciar a audição com um depoimento, se assim o desejar. Pode, também, dentro dos limites que a lei lhe confere, invocar o “segredo de justiça” para evitar algumas matérias que tenham a ver com as investigações em que é arguido (“Monte Branco”), ou “visado” (“universo Espírito Santo”)

08:55 - Neste momento, a sala 6 das comissões está a abarrotar e ainda só estão presentes dois deputados, Teresa Anjinho, do CDS, e Jorge Vala, PSD. A presença de jornalistas, 25, e repórteres fotográficos e de imagem, 12, já ilustra bem a importância desta audição.

09:02 - Já há quórum na comissão. Dez deputados de cinco grupos parlamentares. Falta um minuto para a hora marcada.

09:07 - Ricardo Salgado entra, calmamente, na sala seis da comissão parlamentar, pela “porta do fundo” da sala. Tem apontado a si um batalhão de fotógrafos e repórteres de imagem de televisão, que, ao vê-lo entrar pela porta do fundo da sala, o acompanham até ao topo da mesa da audição. Vem acompanhado pelo seu advogado, Francisco Proença de Carvalho. Detém-se uns segundos para as fotografias e senta-se. Fotografia: Daniel Rocha

09:10 - No dia em que Ricardo Salgado e José Maria Ricciardi são ouvidos no Parlamento, o Diário de Notícias revelou uma carta de Ricciardi em que este responsabiliza o primo pela queda do BES

09:11 - Eram 9h08 minutos quando Ricardo Salgado entrou na sala onde vai ser inquirido no quadro da Comissão de Inquérito parlamentar à gestão do BES-GES. O ex-banqueiro entrou acompanhado de assessores e do seu advogado, o filho de Daniel Proença de Carvalho.
Depois de ter liderado o grupo Espirito Santo durante mais de 22 anos, Ricardo Salgado irá submeter-se a "um exame" do Parlamento sobre os factos que levaram este Verão ao colapso do GES e por arrastamento do GES. 

09:12 - Este é, provavelmente, o momento alto dos trabalhos da Comissão de Inquérito. Na sala onde vai intervir foram colocadas não uma fila de cadeiras destinada à comunicação social, como é habitual, mas três. E não são suficientes. Muitos jornalistas sentam-se também nas cadeiras reservadas aos assessores dos grupos parlamentares. A sala está completamente cheia e todos se preparam para começar a ouvir Ricardo Salgado na sua primeira intervenção pública desde que deixou a presidência do BES, desde que foi constituído arguido no caso Monte Branco por suspeita de evasão fiscal, burla e corrupção. Desde que o banco faliu. Salgado vai começar a ler um longo depoimento sobre o seu trajecto à frente daquele que foi na última década o segundo maior banco privado, controlado por um intrincado e endividado conglomerado

09:13 - Fernando Negrão anuncia que Ricardo Salgado fará “uma intervenção inicial longa”, “para além de uma hora”.

09:16 - “Remeti-me ao silêncio”, “estive a trabalhar para defender a dignidade e a honra da minha família e minha”. Ricardo Salgado começou por citar um provérbio chinês: “O leopardo quando morre deixa a sua pele e um homem quando morre deixa a sua reputação.”

09:20 - "Durante semanas e meses a fio, a minha família e eu próprio fomos julgados sumariamente na opinião pública. Tudo histórias totalmente falsas, mas que acabaram por ocultar a verdade dos factos."

09:27 - O banqueiro admite que pode ter "tomado decisões erradas" e avança com a análise macro-económica dos últimos anos, a crise financeira, desencadeada pela falência do Lehman Brothers, a crise da dívida pública, sem esquecer o papel prejudicial das agências de rating na actividade de banca.

09:29 - Ricardo Salgado não evita ainda críticas lançadas à troika na avaliação e imposições a Portugal, que considera ter tido um papel prejudicial para as empresas nacionais.

09:36 - Salgado faz marcha atrás no tempo e recua até à eclosão da crise financeira internacional e ao colapso do norte-americano Lehman Brothers, para sublinhar como a leitura da crise no Grupo Espírito Santo (GES) não se pode separar da crise internacional e da “frágil” situação da economia portuguesa. Recorda previsões falhadas da OCDE para os países da periferia da zona euro, lembra projecções do FMI, cita relatórios das agências de rating, sublinha as expectativas dos analistas em relação às acções do BES durante a crise e recorda a queda dos títulos da bolsa portuguesa, das acções do banco e dos concorrentes portugueses. Até que lança uma pergunta: “Mas como é que o BES viveu os anos da crise” em 2012 e 2013? Resposta de Salgado a Salgado: “Conseguiu romper o fechamento dos mercados internacionais”. De seguida, enumera as várias emissões de dívida e aumentos de capital do banco.

09:38 - Para o banqueiro, a acção da troika em Portugal, que ignorou os sucessivos alertas da banca sobre os impactos das medidas de austeridade, revelou-se "uma oportunidade perdida" para o país.  

09:38 - Depois de enumerar os vários impactos da crise no BES salientou: "Sempre quisemos manter o BES em mãos portuguesas, senhores deputados." Daí "não termos recorrido à linha de recapitalização do Estado", uma decisão que não visou "evitar revelar segredos" ou "manobras". O BES e a ESFG (que controlava o BES) estavam sujeitos à supervisão do BdP, que mantinha ainda uma equipa em permanência no banco.

09:44 - "Falei até agora do que foi o percurso do BES e do grupo. Falarei agora dos acontecimentos recentes.Vou ser objectivo e factual, deixo os juízos de valor para Vossas Excelências."

09:50 - Ricardo Salgado dá hoje a sua versão da queda do BES. Que poderá comparar com a investigação de Cristina Ferreira: a crónica do fim do império.

10:06 - As relações com o Banco de Portugal mudaram, a partir de Março de 2014, defende Salgado. Havia, desde final de 2013, um "clima mediático de permanente debate acerca do grupo" centrado na "discussão da liderança do banco". "No relacionamento entre o BdP e o GES existem duas fases. Até Março de 2014 foi uma fase muito difícil, mas em que foi possível, com um esforço considerável, reduzir a exposição do Grupo aos clientes do banco", disse. Depois de Março, "o BdP de forma vaga e imprecisa iniciava um processo que o senhor vice-governador chamou de “persuasão moral'" com vista à saída de Salgado. Contraditoriamente, acusou: "O senhor vice-governador disse-nos que gostava que fosse eu próprio a liderar a transição da liderança". Salgado refere que considerou "imprudente" a sua saída "antes do aumento de capital". Fotografia: Daniel Rocha


10:23 - Salgado fala agora sobre os últimos meses e semanas à frente do banco e aponta baterias ao Banco de Portugal. Para o ex-presidente do BES, entre Março e Junho, houve “uma situação contraditória”, a que se seguiriam “dois processos sucessivos de escolha” da nova administração. Segundo Salgado, os nomes de Amílcar Morais Pires (ex-CFO e indicado para suceder a Salgado na presidência do BES) e de Isabel Almeida (ex-directora financeira) “mereceram aceitação inicial” por parte do Banco de Portugal. Salgado diz mesmo que Carlos Costa chegou a dizer-lhe por telefone sobre a sua sucessão: “Será quem o senhor entender”. Salgado disse estranhar que se tenha levantado a questão da idoneidade de Morais Pires. “O meu colega da comissão executiva estava há 28 anos no banco, nunca tinha sido questionada a sua idoneidade” e, com Isabel Almeida, gozava de prestígio no sector, enfatizou.

10:30 - Carlos Costa "nunca me disse directamente para eu sair do BES."

10:31 - Enquanto descreve os factos que consideram terem “por si só” desencadeado “uma reacção extremamente negativa” que levou à queda a pique das acções do BES, Salgado mostra uma folha A4 com a evolução do BES em bolsa. Cópias desse gráfico são, minutos depois, distribuídas aos deputados.

10:31 - Ao fim de uma hora e 15 minutos, Salgado aproxima-se do fim da sua declaração inicial: "Peço desculpa por ter sido demasiado longo. Senti ser meu dever explicar os acontecimentos e os meses intensíssimos entre Outubro de 2013 e Julho de 2014. A ideia de que sou o responsável todo-poderoso já fez caminho no juízo de muitos portugueses. Ninguém sai ileso de uma guerra familiar. Um nome pode ser apagado da fachada de um banco, mas não da memória de uma família com 145 anos. Mesmo os revolucionários de Abril não sentiram a necessidade de mudar o nome quando mudaram o regime."

10:32 - Ao fim de uma hora e 15 minutos, Salgado aproxima-se do fim da sua declaração inicial: "Peço desculpa por ter sido demasiado longo. Senti ser meu dever explicar os acontecimentos e os meses intensíssimos entre Outubro de 2013 e Julho de 2014. A ideia de que sou o responsável todo-poderoso já fez caminho no juízo de muitos portugueses. Ninguém sai ileso de uma guerra familiar. Um nome pode ser apagado da fachada de um banco, mas não da memória de uma família com 145 anos. Mesmo os revolucionários de Abril não sentiram a necessidade de mudar o nome quando mudaram o regime."

10:34 - O primeiro partido a questionar Salgado é o PSD. Fala Carlos Abreu Amorim, o coordenador dos deputados social-democratas. Acusa de "desonestidade intelectual" o ex-banqueiro, por comparar o BES com o país e o BdP com a troika.

10:36 - Carlos Abreu Amorim: "Os dinheiros públicos não podem servir para sanar uma situação com suspeitas de fraude e manipulação de contas".

10:37 - Salgado responde a Carlos Abreu Amorim. Diz que nunca comparou o BES ao país, apenas comparou "o método".

10:40 - Salgado: "Posso garantir aos senhores deputados que nunca dei indicações a ninguém para ocultar passivos do Grupo".

10:41 - Carlos Abreu Amorim, deputado do PSD, questiona se houve em algum momento manipulação de contas” no BES e no GES. Salgado começa a responder. “O GES está há 40 anos no Luxemburgo. Nunca tivemos qualquer problema com as nossas sociedades luxemburguesas”. As contas das holdings no Luxemburgo eram sempre fechadas, disse. “Devo dizer que a minha vida era dedicada” a 100% à área financeira e não tinha responsabilidade directa sobre as contas da Espírito Santo International, diz Salgado.

10:43 - Carlos Abreu Amorim insiste: "Não sabia... Mas essa manipulação existiu." Ricardo Salgado responde: "Todos os membros do Conselho superior assinaram as contas. Não dei instruções para ocultação de passivos ao doutor Machado da Cruz [o contabilista]."

10:51 - Carlos Abreu Amorim: "Para onde foi o dinheiro?"
Ricardo Salgado: "Está-se a referir às imparidades do BES?"
Carlos Abreu Amorim: "Sim."
Ricardo Salgado: "Essas imparidades foram aceleradas por uma ordem do BdP. Portanto, o prejuízo que o BES realizou foi por ordem dessa provisão imposta. Ficou registado em acta que foi imposta. Estamos todos à espera da auditoria forense. Mas a provisão não se traduz em saída de dinheiro".

10:53 - Abreu Amorim questiona a Salgado se tem tido contactos com Francisco Machado da Cruz. O ex contabilista do grupo – a quem Salgado umas vezes se refere como “dr Machado da Cruz” ou apenas como “o Machado da Cruz – “tinha residência nos Estados Unidos”. “Não o vejo há largos, largos meses”.

10:53 - Salgado: "Ninguém se apropriou de um tostão, nem na administração, nem na família".

10:57 - Salgado: "O Grupo entrou em colapso por não haver tempo e não ser possível a operação de médio prazo. Não houve fugas de dinheiro do banco." Fotografia: Daniel Rocha

10:59 - Salgado: "Entre Julho e Agosto devem ter saído do banco 6 mil milhões de euros."

11:01 - Desta vez é Carlos Abreu Amorim quem mostra um gráfico, baseado no relatório do KPMG, para mostrar a exposição “colossal” do banco ao grupo – a expressão “colossal” é do deputado do PSD. Replica Salgado: “Eu julgo que consegui explicar, na medida do possível, a inexequibilidade do ring-fencing [barreira de protecção do BES em relação ao GES]”.


11:04 - Carlos Abreu Amorim: "Nas últimas semanas em que esteve à frente do banco há notícias de transferências para off-shores nas ilhas britânicas. De quem são esses off-shores?"
Ricardo Salgado: "Não tenho conhecimento de capitais que tenham saído do banco para terceiros."
Carlos Abreu Amorim: "Foi responsável por alguma operação bancária de capital superior a 1 milhão de euros desde Abril?"
Ricardo Salgado: "Era responsável do Comité de Crédito mas só tinha intervenção em operações de grande dimensão. Por isso, operações de um milhão de euros não caem dentro da alçada do Presidente da Comissão Executiva." 

11:16 - Salgado: "Se não tivesse havido um enorme problema em Angola, por que razão haveria uma garantia assinada pelo Presidente? A partir de certa altura começámos a ter informações em Lisboa... estranhas. Deve ter sido em meados da década. Os clientes queixavam-se que Álvaro Sobrinho não tinha tempo para receber os clientes. Houve um crescimento do crédito. Chegámos a uma altura, infelizmente, em que o BNA diz que os bancos angolanos têm de ter total independência informática do exterior. Tivemos de dar autonomia informática a Angola em 2009. Acontece que começámos a ficar preocupados à medida que o tempo ia avançando. Começam a sair notícias... Está ali a doutora Cristina Ferreira, do PÚBLICO, que se deve lembrar disso."

11:17 - Carlos Abreu Amorim: "Está a dizer-nos que sabia de tudo pelos jornais?"
Ricardo Salgado: "Recorro à sua sapiência jurídica. É crime em Angola violar o segredo bancário. Os nossos sócios angolanos sugeriram a substituição do doutor Álvaro Sobrinho. Pois bem, a partir da altura em que Álvaro Sobrinho sai, os órgãos de imprensa da propriedade dele, que adquiriu o Sol e o i, começa o bombardeamento na imprensa do doutor Álvaro Sobrinho a meu respeito, e não só."

11:23 - Leia aqui na íntegra a intervenção inicial de Ricardo Salgado, que termina com uma frase emblemática: "Perdoarão pois que ouse continuar a pensar que, modestamente, servi, com idoneidade, nas tarefas que me foram confiadas no exercício da minha profissão ao longo de 40 anos, dentro e fora do país."

11:30 -  Salgado: "Não contem comigo para atacar ninguém da minha família."

11:31 - Às equipas do BES que depois chegaram a Angola “foram-lhe levantadas as maiores resistências e ameaças”. E foi isso que nos levou a pedir apoio” ao presidente de Angola, disse Salgado, justificando que a garantia foi dada porque as autoridades angolanas consideraram o BESA “um banco essencial para o desenvolvimento de Angola”. Mas o Banco de Portugal sabia da situação? “Procurávamos informar o banco de Portugal sempre na medida do possível”, diz Salgado, referindo que o supervisor português “levantou sempre as maiores dúvidas sobre a garantia” ao ponto de não a aceitar para efeitos de rácios de capital.  “[Foi] extremamente lamentável que isso tenha acontecido”, diz Salgado.
"Recordo que há três bancos com capital de Angola, BCP, BPI e BIC". E colocar a garantia de Angola no banco mau, como activo tóxico, depois da divisão do BES, foi "no mínimo uma enorme ofensa diplomática”.

11:34 - Carlos Abreu Amorim questiona Salgado sobre os alegados 14 milhões de euros que recebeu do construtor José Guilherme. O banqueiro diz que é um assunto do foro pessoal e invoca o segredo de justiça.

11:35 - Carlos Abreu Amorim (PSD) faz um resumo das respostas de Salgado: “Embora fosse o principal responsável, era sempre o último a saber”.
Ricardo Salgado responde: “Era apenas responsável pela área financeira”, responde o ex-presidente do Banco Espírito Santo: “Vivia dentro do BES”. “Considero-me um verdadeiro trabalhador. Tendo dedicado a minha vida ao banco, não me considero responsável pelo que se passou” fora do banco, na área não financeira.

11:36 - Salgado: "Houve um erro de julgamento na indicação da pessoa que foi para Presidente da Comissão Executiva do BESA [Álvaro Sobrinho]."

11:36 - Começam agora as perguntas do coordenador dos deputados socialistas, Pedro Nuno Santos. "Como é que pede a Machado da Cruz para continuar, depois do que fez?" 

11:37 - Ricardo Salgado começa a responder, "senhor doutor...", mas Pedro Nuno Santos interrompe-o, pedindo que o trate por "deputado".

11:37 - Salgado admite alguns erros, mas garante que sempre foi um “profissional consciente”. E dá uma garantia. “Não houve desvios de capital para fora do banco” nem para administradores, nem para directores do banco. Os “cenários” apresentados nas televisões sobre saídas de dinheiros, diz, são “totalmente falsos”.

11:46 - Pedro Nuno Santos: "O BESA acabou por se transformar numa transferência de 3 mil milhões de euros dos contribuintes portugueses para outros, empresários angolanos, ou portugueses, não sabemos... Há uma responsabilidade de quem decidiu conceder o crédito ao BESA, que é do BES. É sua."

11:57 - Salgado: o problema do crédito do BESA “emerge agora” porque a garantiado Presidente de Angola caiu. “Não acredito por outra questão que não a separação do Banco Espírito Santo num banco bom e no banco mau”. Aos deputados, deixa a interpretação deste facto.
Pedro Nuno Santos: "A garantia caiu por causa da resolução. Mas esse não é o problema.O problema é anterior. Rui Guerra está desde 2013 à frente do BESA. Dou-lhe só 5 empresas que receberam 1600 milhões de euros. Empresas desconhecidas e que boa parte desse dinheiro não se destinou a actividade produtiva. Era altura de começarmos a falar um pouco mais sobre este assunto"
Ricardo Salgado: "Não podemos discutir esses assuntos, por causa do sigilo bancário angolano. O doutor Rui Guerra diz que a responsabilidade desses créditos cabe a Álvaro Sobrinho. Também se sabe que a partir de certa altura, Sobrinho nomeou a cunhada para responsável da atribuição de crédito."

12:02 - Salgado continua a responder às perguntas de Pedro Nuno Santos, que hoje explicou a sua estratégia numa entrevista ao PÚBLICO.
Enquanto o GES estava “em plena reorganização”, Salgado diz ter pedido tempo ao Banco de Portugal. “Ora, tempo foi aquilo que não nos foi dado”. “Simplesmente não tivemos tempo e ainda há aí muitas empresas” que ainda estão à venda. A única que o ex-presidente do BES diz ter conseguido “fugir à pressão dos supervisores foi a Espírito Santo Saúde”, empresa que depois do colapso do GES foi alvo de várias OPA e interessados, acabando por ficar nas mãos dos chineses da Fosun, através de uma oferta pública da Fidelidade.

 12:10 - Ricardo Salgado fala sobre o colapso do império Espírito Santo em 2014. “A sentença de morte veio quando não foi possível fazer o aumento de capital da Rioforte”. “A sentença de morte é uma sentença que evolui ao longo do tempo”. "Nós estávamos a defender a credibilidade" do grupo e dos clientes do BES" e com sete meses para resolver um problema desta magnitude era impossível, disse.

12:12 - Ricardo Salgado: "Julgo que estamos a chegar a um ponto em que os senhores deputados estão a entender o que aconteceu. O doutor Ernâni Lopes considerava o GES um grupo estruturante e um centro de racionalidade. O grupo tinha um factor multiplicador extraordinário em termos de emprego."

12:16 - Pedro Nuno Santos: "Uma estratégia que pusesse em risco as suas empresas, nunca poderia ser liderada por si, que queria proteger o ramo não-financeiro. À medida que foi implementando as medidas do BdP, foi encontrado, segundo o Banco de Portugal, um esquema fraudulento para continuar a financiar o GES. Doutor Ricardo Salgado, como é que conseguiu convencer o senhor governador do BdP a mantê-lo?"
Ricardo Salgado: "Ouvi surpreendido as declarações do Governador do BdP segundo o qual teve um braço de ferro comigo. Nunca me foi sugerido que estava em avaliação a minha idoneidade. Bastaria um sinal [do Banco de Portugal] para eu abandonar a liderança do banco."

12:19 - Ricardo Salgado: "O Lehman Brothers faliu. O BES não faliu. O BES foi forçado a desaparecer."

12:23 - Cecília Meireles, do CDS, começa a questionar Ricardo Salgado. A audição já dura há mais de três horas. Ainda faltam as perguntas do PCP e do BE para terminar a primeira ronda. Restam, ainda, duas novas rondas. A última das quais permite que todos os deputados que queiram coloquem questões. Ou seja, a audição ainda se encontra numa fase muito prematura...

12:28 - Uma figura (quase sempre) em silêncio na sala: Francisco Proença de Carvalho, advogado do ex-presidente do BES, filho de Daniel Proença de Carvalho. Sentado do lado direito de Ricardo Salgado, é ele quem carrega no botão do microfone a cada vez que o seu cliente responde aos deputados. Por vezes, troca impressões com Salgado quando o micro está desligado e há um deputado a colocar uma questão.

12:32 - Ricardo Salgado: "O modelo da resolução cria o descalabro final, que é a queda da garantia de Angola."

12:32 - O “dr. Machado da Cruz”, o contabilista da Espírito Santo International, tem sido o ausente mais falado nesta audição. Salgado, que hoje já o referiu por ter prestado “serviços relevantes” ao grupo ao longo de duas décadas, ironiza agora que “o dr. Machado da Cruz” ora diz uma coisa, ora diz outra.

12:36 - Cecília Meireles: "Esta é a parte que não consigo de todo entender: como é que a holding de topo não era auditada, não tinha revisor oficial de contas, e porque é que ninguém se questionou sobre a ESI..."
Ricardo Salgado: "A ESI, não era uma holding financeira e, portanto, não era supervisionada. Estivemos 40 anos no Luxemburgo e nunca tivemos um processo e agora parece que o céu nos desabou em cima da cabeça."

12:40 - Cecília Meireles: "Quando é que o senhor governador lhe disse que se deveria afastar da liderança do BES?"
Ricardo Salgado: "O senhor governador nunca me disse que eu deveria sair da administração do BES. O que me disse, foi que a família, toda, deveria sair da administração do BES. Nunca, por nunca, eu tive uma reacção negativa. E se o senhor governador alguma vez me tivesse dito que eu deveria sair, eu sairia na hora, mas é que era na hora!"Fotografia: Daniel Rocha

12:42 - Ricardo Salgado: "O BdP levantava questões pontuais sobre a minha idoneidade desde o ano passado. Não posso falar sobre isso porque está em segredo de justiça [caso Monte Branco, e a oferta que terá recebido de um construtor, alegadamente de 14 milhões de euros]."

12:47 - Ricardo Salgado: "O senhor governador perguntou-me quem me deveria suceder. Foi algures antes do aumento de capital. Eu disse: o doutor Morais Pires e em segundo o doutor Joaquim Goes. O senhor governador disse-me que havia uma certa preferência pelo doutor Joaquim Goes, que gozava de muito apreço na área da supervisão. Por isso fiquei muito surpreendido quando ele foi suspenso."

13:00 - Amílcar Morais Pires – ex-responsável financeiro do BES e que Salgado propôs para lhe suceder como presidente do banco, o que não viria a acontecer – volta a ser falado. Em função dos problemas que o banco e o país enfrentavam em matéria de financiamento internacional, Ricardo Salgado “considerava importantíssimo” que Morais Pires fosse indicado CEO. “Como íamos para o aumento de capital, considerava essencial pôr o dr. Amílcar Morais Pires [para presidente executivo] e a dr. Isabel Almeida como CFO [responsável financeira]”.
Salgado passou depois a ler um email enviado ao governador do Banco de Portugal no dia 20 de Junho às 12h27, pedindo autorização “mais uma vez” e “com urgência” que fosse dada autorização ao nome de Morais Pires, e frisando que João Moreira Rato, então presidente do IGCP (entidade responsável pela gestão da dívida do Estado) apontava dificuldades de mercado. Salgado diz ter recebido resposta do governador uma hora depois, às 13h35. Nesse email, Salgado diz que Carlos Costa referia que “o Banco de Portugal não estava em condições de validar o nome proposto por um accionista “sem avaliar os requisitos de idoneidade”.

13:03 - "Quando em fins de Junho perguntei ao senhor governador se podia indicar o Amilcar" para o substituir na liderança do BES, Salgado conta que Carlos Costa respondeu "que precisava de dois dias para pensar": "Depois telefonou-me a dizer que será quem o senhor presidente entender".

13:07 - Siglas como BES, GES e BdP e palavras como capital,governador, banco, grupo, dívida, senhor, financeira eaumento foram as mais utilizadas por Ricardo Salgado na sua intervenção inicial. Uma análise feita pelo PÚBLICO, sem contar com as preposições mais comuns ("de", por exemplo) e outras palavras sem relevância.

13:08 - Miguel Tiago, do PCP, começa agora a inquirir Ricardo Salgado. Quatro horas depois do início. "As provisões eram referentes a que imparidades, de que créditos, de que clientes?" Salgado começa por responder com um "pois..." 

13:10 - Ricardo Salgado: "Em relação à promiscuidade política, vi alguns comentários de políticos altamente colocados de que o grupo teria tido uma ligação especial ao governo anterior anterior e ao PS. Todos os bancos em Portugal, de alguma dimensão, contribuíram com colaboradores seus para o Governo."

13:17 - Ricardo Salgado: "Não tivemos uma bolha à espanhola, ou à irlandesa, mas tivemos imparidades no sector imobiliário. Não posso dar-lhe de memória clientes que tivessem créditos provisionados."
Miguel Tiago: "Entre os clientes do banco estavam também as empresas do GES. Não respondeu, portanto...Temos as listas dos grandes clientes dos bancos, mas os nomes foram apagados e a alguns deles foram cortados 100% do crédito."
Ricardo Salgado: "Tem toda a razão de levantar a questão, mas não lhe posso responder, mesmo que soubesse."

13:19 - Miguel Tiago: "Como é que diz que o departamento de risco era eficaz e eficiente, quando se perderam 5 mil milhões de euros?"
Ricardo Salgado: " Senhor deputado, tenha paciência... O departamento de riscos angolano foi pervertido. Per-ver-ti-do. Aquilo não funcionou."

 13:21 - Miguel Tiago: "Em Portugal também surgem imparidades de 100%..."

13:31 - Ricardo Salgado: "Se houve um braço-de-ferro com o governador do Banco de Portugal eu não senti..."
Miguel Tiago: "Tal era a força do governador.."

13:38 - Ricardo Salgado: "Oh senhor deputado Miguel Tiago, eu não tenho por sistema mentir. Nunca menti nestas coisas. É fundamental que a governação do Banco de Portugal seja clara. Se o Banco de Portugal tivesse querido que eu saísse era muito fácil... [lê duas cartas enviadas a Carlos Costa em que se dispõe a sair e uma outra, ao chefe da supervisão, em que propõe um calendário para a sua saída] Portanto, fará o favor de entender que eu nunca pus qualquer obstáculo à mudança de governance do BES."

13:43 - Ricardo Salgado: "Eu saio no dia 13 [de Julho]. No dia 12 enviei uma carta ao BdP a dar conta de financiadores interessados. O BdP não esteve na disposição de receber os investidores interessados. Remeteu o assunto para a nova comissão executiva. Eles não resolveram o assunto. Adiaram para o fim do mês. E no dia 30, o BdP dá 48 horas para o aumento de capital. Julgo que essa carta do BdP é uma forma de se desresponsabilizar. 48 horas para fazer o aumento de capital? Só se fosse um milagre. O que parece é que tudo estava orientado para o mesmo..."
Enquanto o deputado do PCP perguntava se era hábito nas reuniões do conselho superior do GES falar-se sobre as declarações públicas que as autoridades deveriam assumir sobre o banco, o seu advogado fala-lhe ao ouvido por breves segundos. (…) “Parece que isto estava tudo orientado para o mesmo. Peço desculpa pela afirmação”.

13:45 - A primeira ronda termina com Mariana Mortágua, do BE. "Quem detinha o resto do capital da ESI?" Ricardo Salgado responde: "De cabeça, não sei..."

14:07 - “No final do mês de Novembro, sabíamos que era essencial reforçar os capitais” e ainda pensámos começar pela ES Control e a ESI [holdings de topo do grupo]. “Mas quando nos apercebemos da situação real, entendemos que era completamente impossível estar a chamar capital para essasholdings”. Daí passar-se a reforçar capitais na Rioforte, afirma Salgado.

14:07 - Cinco horas ininterruptas de perguntas e respostas a Ricardo Salgado. A audição ainda não fez qualquer pausa, desde que começou, poucos minutos depois das 9 horas. 

14:23 - Ricardo Salgado confirma que o Governo foi informado, em Maio, sobre o risco sistémico do grupo, inclusivamente numa reunião com o primeiro-ministro a 20 de Maio. Salgado referiu que foram informados Passos Coelho, a ministra das Finanças, Carlos Moedas e também Durão Barroso, à data presidente da Comissão Europeia.
“Isto não tinha nenhuma finalidade de obter vantagens estranhas ou  promíscuas com o Governo. O que foi feito foi comunicar ao Governo, pela última vez (…), a eventualidade de um risco sistémico e a necessidade de obter um apoio intercalar para financiar a área não financeira”.
Qual foi a resposta de Carlos Moedas e de Durão Barroso, questiona Mariana Mortágua “Eles ouviram, compreenderam”, afirma Salgado. "Em que datas ocorreram essas reuniões?" insistiu a deputada do Bloco de Esquerda. A reunião com Passos foi a 20 de Maio, referiu Salgado, consultando uma folha A4. A reunião com a ministra das Finanças julga ter acontecido a 14 de Maio (embora confidenciando que pensava terem ocorrido no mesmo dia); e a reunião com Carlos Moedas foi a 2 de Maio; da reunião com Durão Barroso, Salgado diz que não tomou nota, apenas garantiu que o encontro não teve lugar em Bruxelas, mas sim em Lisboa.

14:24 - Salgado volta agora a falar do BESA e de Álvaro Sobrinho: "O que pude constatar pessoalmente é que os dois accionistas angolanos do BESA, os generais Leopoldino  de Nascimento e Helder Vieira Dias [estavam] muito indispostos com o dr. Álvaro Sobrinho." Houve mesmo "uma reunião no BNA complicadíssima e os investidores angolanos disseram que queriam uma mudança de governação no BESA e a saída do dr. Álvaro Sobrinho".

14:25 - Ricardo Salgado: "Mostrei a garantia [do Governo angolano] ao Presidente da República e disse-lhe que estava convencido que ela se devia também ao bom relacionamento de Cavaco Silva com a Presidência de Angola."

14:34 - Mariana Mortágua questiona, pela primeira vez, o papel da Escom. Ricardo Salgado responde: "Não posso avançar muito mais, porque a Escom está integrada num processo em que estou arguido."
Mariana Mortágua: "Imagino que não me possa confirmar se recebeu ou não dinheiro do consórcio alemão que vendeu submarinos ao Estado português."
Ricardo Salgado: "O caso dos submarinos foi um dos erros de julgamento do GES, pelo efeito terrível em termos de reputação para o grupo. Imediatamente a seguir decidimos não fazer mais nenhuma operação dessa natureza. A Escom teve custos. Os resultados foram distribuídos, de acordo com decisão do Conselho Superior, através de uma subsidiária. Esses custos foram analisados pelo Ministério Público. A garantia que tenho dos administradores da Escom é que não foram pagas comissões a quem quer que seja a nível político."

14:36 - Salgado considera “um erro” o processo de resolução do BES, aplicado pelo Banco de Portugal a 3 de Agosto, e acredita que “a avaliação ainda está por fazer”. Há, no entanto, uma leitura que não deixa de fazer, tendo em conta “os valores perdidos” com a intervenção pública. O nível de capitalização do BES “foi completamente dizimado” e, se o banco for vendido por um valor inferior ao da intervenção, é preciso ter em conta esse diferencial. E também ao nível do crédito do BES, Salgado considera que a situação do Novo Banco “vai criar uma crise maior” ao nível do emprego e das empresas.

14:38 - A carta de 31 de Março “Eu li a carta ao senhor primeiro-ministro e ele devolveu-me a carta a seguir à leitura”, conta Salgado.

14:42 - Ao fim de mais de cinco horas e meia, terminou a primeira parte da audição de Salgado (intervenção inicial e primeira ronda). Às 15h deveria ser ouvido o primo José Maria Ricciardi, mas Ricardo Salgado vai continuar a ser ouvido. Os trabalhos são retomados às 15h15.

15:34 - Começa a segunda ronda, depois de uma pausa de 40 minutos. Carlos Abreu Amorim volta a falar em nome do PSD. Critica a "pitada" de "habilidade" que Ricardo Salgado terá usado, de manhã, para "compor uma narrativa alindada".

15:37 - Carlos Abreu Amorim: "À cautela foi-se munindo de elementos", para inviabilizar o eventual processo de levantamento da idoneidade, por parte do BdP. "Autoriza que o Banco de Portugal revele a troca de correspondência que o regulador manteve consigo a propósito da idoneidade?" 

15:38 - Carlos Abreu Amorim: "O BES faliu por má gestão, por uma gestão pouco séria e pouco sã. Finou-se por culpa própria"

15:46 - Ricardo Salgado: "O senhor deputado fez uma exposição bastante extensa. Nunca fui uma pessoa presunçosa, ou que pretendesse assumir posições de destaque. Sou uma pessoa sóbria e não tenho por costume alindar narrativas. Volto a dizer exactamente o mesmo: se tivesse sido levantada a questão da minha idoneidade, eu tinha imediatamente pedido a demissão. Aquilo que me levou a aceitar uma determinada liberalidade foi o facto de ter consultado juristas. O BdP podia ter-me dito que esses pareceres, por mais sábios que sejam, eu teria de sair. Eu teria saído imediatamente. Estamos abertos a dar tudo o que entender. Os elementos que tivermos estão abertos. O Banco de Portugal, por mim, está completamente livre de dar esses elementos ao senhor deputado."

15:53 - Ricardo Salgado: "Eu sou gestor bancário há 40 anos. Passei por 5,6,7  grandes crises internacionais. Fomos considerados um dos melhores bancos em termos europeus. Estou de consciência tranquila. Não tenho nada de que me arrependa. Tenho uma carga pesadíssima em cima de mim. Há responsabilidades do nosso lado. Mas também há responsabilidades de outros lados."
Salgado admite ainda que o aumento de capital do BES de Junho, de cerca de mil milhões de euros, não deveria ter sido realizado, depois de feitas correcções ao prospecto da emissão por parte da CMVM. Salgado, na altura, referiu-se à operação como um sucesso.

15:55 - Carlos Abreu Amorim, do PSD, mostrou-se enfurecido com o facto de Ricardo Salgado ter recomendado aos deputados, da parte da manhã, a leitura de algumas obras editadas este ano – uma delas assinada por Tim Geithner, ex-secretário de Estado do Tesouro dos EUA. E resolveu devolver o desafio. Mas não com um livro técnico. Recomendou a Salgado a leitura de Confissões, de Santo Agostinho. O recado ficou dado. Tomando a palavra, Salgado devolveu com ironia, agradecendo o facto de Abreu Amorim ter referido as suas “qualidades de inteligência” mas rejeitando ser uma pessoa presunçosa. Disse que recomendou aos deputados aquelas obras porque elas “são muito valiosas” para compreender o actual contexto de crise. E não deixou passar em branco a recomendação de Confissões. “Sou católico praticante Tenho o maior respeito por Santo Agostinho. Sempre que posso leio as meditações do Santo Agostinho”.

15:59 - Agora é Pedro Nuno Santos, do PS, a prosseguir a segunda ronda. "Vai ficando claro que o governador não o quis substituir, mas não é claro que o senhor saísse sem um braço-de-ferro."

16:05 - Pedro Nuno Santos: "O país aceita com dificuldade, mas percebe, que o Estado possa intervir num banco com impacto sistémico, mas não percebe que interviesse num grupo não financeiro."

16:14 - Pedro Nuno Santos confrontou Salgado com a transcrição de uma acta do Conselho Superior do GES sobre as polémicas comissões da Escom nos submarinos. Salgado terá dito, na altura, aos seus familiares, que dispunha da informação de que além dos três gestores da Escom, teria havido também o pagamento a uma outra pessoa ou entidade, cujo nome não refere. Hoje de manhã, Salgado negou que a Escom tenha pago a comissões "a nível político". Salgado referiu-se, então, pela primeira vez "às gravações" das reuniões. "Nem sequer sabia que estava a ser gravado... Alguém desencadeou as gravações e as passou cá para fora. O que posso dizer é que se tratava de uma estrutura informal, com uma liberdade de linguagem não permitida em outras organizações. No meu entender cometemos um erro de julgamento ao ter entrado no negócio dos submarinos. Tive a garantia, tanto quanto se pode ter, da administração da Escom de que não tinham sido pagas comissões da área política. De facto, pareceu-nos que o montante que foi entregue aos accionistas nos parecia relativamente baixo. O Ministério Público tem uma acta assinada pelo Conselho Superior do grupo. O valor recebido foi superior a 5 milhões de euros. Não lhe sei dizer mais nada, a não ser que toda a envolvente, a situação terrível das contrapartidas, me levou a um excesso de linguagem a dizer que estava rodeado de aldrabões. As investigações que foram feitas criaram um mal estar muito grande, o que foi uma pena."

16:15 - Entrámos na sétima hora da audição. A segunda ronda prossegue, com Cecília Meireles, do CDS. Até agora, ao contrário do que é habitual, só têm falado os coordenadores dos grupos parlamentares. Mas esta não é uma audição "normal". Está na sétima hora (com uma curta pausa de menos de uma hora para almoço). 

16:24 - Ricardo Salgado: "Gostaria que ficasse muito claro que não se pedia que o Estado capitalizasse a área não-financeira do Grupo."Foto: Daniel Rocha

16:30 - É agora a vez de Miguel Tiago, do PCP, que regista "a ironia" de ouvir Salgado a ver no Estado "a salvação". "Mais valia não ter saído da esfera pública o banco que lhe foi entregue."

16:37 - “Ao que parece, o Banco de Portugal foi enganado pelo BES; ficamos a saber que o BES acha que também foi enganado pelo Banco de Portugal”, diz Miguel Tiago. Partindo da afirmação de Ricardo Salgado em que este disse que o BES foi forçado a desaparecer, o deputado do PCP questionou o ex-presidente do BES sobre quem é que forçou, na sua opinião, a instituição financeira a desaparecer.

16:50 - Ricardo Salgado responde a Miguel Tiago: "O Estado mínimo e a iniciativa privada são sempre conceitos fundamentais na organização da sociedade que é bom ter presente. O Grupo investiu em Portugal 8 mil milhões de euros e criou 25 a 30 mil postos de trabalho. Não dei instruções para a ocultação do passivo. Sobre a Escom não lhe posso dizer mais, porque não sei. A Escom teve que pagar encargos, muitos encargos, técnicos, jurídicos. Não era a minha área, mas que não foram pagas comissões a políticos foi o que me garantiram que aconteceu. O BES, segundo os dados da auditora KPMG, apresentou um património líquido de 3700 milhões, sem contar com os 2 mil milhões de provisões, em 29/8. Gostaria de ver as auditorias forenses para perceber. Mas o BES estava com 3700 milhões. O BES escusava de ter desaparecido. Não estávamos muito longe do que era necessário para ter sobrevivido. Era escusada esta resolução."

16:54 - Última intervenção desta ronda: Mariana Mortágua, do BE. "É incrível que o 'dono disto tudo' apareça aqui como a vítima disto tudo... Quis fazer-nos acreditar que o seu império ruiu sem que soubesse?"

16:57 - Mariana Mortágua: "Percebe-se que o Governo seja contactado por um banco em risco sistémico, mas não se percebe como Durão Barroso é contactado, ou Carlos Moedas..."

17:00 - Mariana Mortágua: "Houve um acordo com o Banco de Portugal para que saísse após o aumento de capital? Passaram-se activos arriscados para o BESA para limpara o BES? E por que razão o Conselho Superior recebe lucros do negócio dos submarinos da Escom?"

17:01 - Às perguntas de Mariana Mortágua, que considera “complexas”, Salgado volta aos auto-elogios, lembrando que era um trabalhador, mesmo durante 70% dos fins-de-semana. "Esta classificação do "dono disto tudo" é irrisória. Para mim, "dono disto tudo" é o povo português e os senhores são os representantes do povo português." "Isto foi uma caracterização que me foi colada”. Foto: Daniel Rocha

17:10 - Salgado insiste que não quer falar sobre os membros da sua família, para defender o nome dos Espírito Santo. Mas acrescentou: “O doutor José Maria Ricciardi certamente não necessitará disso”.

17:21 - Ricardo Salgado encerra as respostas à segunda ronda da audição. “Por fim, o dono disto tudo passa a responsável disto tudo ou vítima disto tudo”. Quis sublinhar que não foi com a ideia de se vitimizar que presta esclarecimentos, mas para, “com a objectividade possível”, dar a sua visão dos acontecimentos. “A minha responsabilização será certamente apurada pela via jurídica e pelos tribunais…”.
“[No BES procurei] defender os interesses dos clientes dentro de uma envolvente política, económica e financeira extremamente complexa. Nunca passei por uma crise desta dimensão”, vincou.

17:22 - Terceira ronda. Começa o relator da Comissão de Inquérito, o deputado Pedro Seabra, do PSD. Os temas polémicos chegam a contas gotas: a expressão "dono disto tudo" e a Escom só surgiram da parte da tarde. Agora, Seabra questiona Salgado sobre Pedro Queiroz Pereira, o empresário, e ex-sócio, que desencadeou uma análise particular às contas do grupo.

17:31 - Cecília Meireles cita frases de Ricardo Salgado, numa entrevista, sobre as responsabilidades dos gestores no caso BCP, questionando-o se não se poderia usar as mesmas palavras de Salgado, mas agora em relação ao BES. Bruno Dias, do PCP, questiona em que medida é que os responsáveis pela gestão da PT tinham ao longo dos anos, de forma reiterada, colocado, “de uma dimensão tal”, a tesouraria da empresa em aplicações financeiras de curto prazo no GES.

17:34 - A pedido de Salgado, o presidente da comissão de inquérito, dá cinco minutos de intervalo antes de o ex-presidente do BES responder às perguntas da terceira ronda.

17:48 - Ricardo Salgado: "Já agora, que me falou do assunto, é totalmente falso que o GES tenha querido comprar o grupo empresarial de Pedro Queiroz Pereira. O pai do senhor Pedro Queiroz Pereira, Manuel, era considerado como um irmão dos meus avós."

17:51 - "Desconheço os elementos que [Pedro Queiroz Pereira] entregou ao Banco de Portugal".

17:57 - José Maria Ricciardi acabou de entrar no Parlamento,acompanhado de dois assessores e do advogado. Está neste momento numa sala contígua à sala onde decorre audição de Salgado. A sua audição estava marcada para as 15h e foi depois adiada para as 17h, estando novamente atrasada.

18:01 - Ricardo Salgado: "Foi uma tristeza o que aconteceu com a PT. Espero sinceramente que a PT consiga [prosperar] com a sua estrutura em Portugal."

18:05 - Ricardo Salgado diz que, numa das cartas enviadas ao Banco de Portugal em que alertava para o risco sistémico, “o único elemento” que não previu foi a situação da operadora de telecomunicações, que investiu cerca de 900 milhões de euros em papel comercial na Rioforte. Notou que há “muitos interessados” na empresa, mas disse não saber quem é que está mais bem posicionado.

18:06 - Ricardo Salgado está no Parlamento há nove horas. José Maria Ricciardi, o seu primo desavindo, também já se encontra em São Bento, a aguardar a hora da sua audição. Salgado tem repetido, e sublinhado, que não fará qualquer comentário que ponha em causa qualquer "membro da família". Será que Ricciardi optará pelo mesmo registo? Ou, pelo contrário, tentará responsabilizar a gestão de Salgado pela queda do grupo e do banco?

18:25 - Duarte Marques, deputado do PSD, diz que ninguém é responsável “por isto tudo” sozinho e considera que Machado da Cruz, o contabilista do GES, não pode ser responsabilizado sozinho. “Esta narrativa faz lembrar alguém”. E concordou com Mariana Mortágua, do BE, quando esta disse que a imagem que Ricardo Salgado dá é a de que é a “vítima disto tudo”. Algumas perguntas para Salgado: confiou demasiado em Álvaro Sobrinho? O dinheiro sobre o qual se perdeu o rasto serviu para aquisições em Portugal? O que é que mudou – foi o BdP que mudou as suas posições em relação ao BES ou foi o facto de ter mudado o primeiro-ministro?

18:35 - Segunda fase da terceira ronda. Duarte Marques, do PSD, diz que o contabilista, Machado da Cruz, era "o bode expiatório útil". Filipe Neto Brandão, do PS, continuou com o tema dos submarinos: "Os administradores da Escom eram seus empregados. Quando admite que uma parte tem de ser entregue a uma determinada pessoa, em determinada data está a sugerir que foram pagamentos ilícitos." Miguel Tiago, do PCP, recorda que José Maria Ricciardi prometeu que "não contaria nada" se "fossem satisfeitas as suas exigências".  

18:35 - Algumas questões de Miguel Tiago a Salgado: como é que um banco “que se financia a custos tão simpáticos” consegue alimentar uma dívida que chega aos 8000 milhões do GES e consegue, ao mesmo tempo, “fazer circular essa dívida” para dentro do BES?; por que é que Alexandre Cadosch, presidente do Eurofin e ex-quadro do BES até 1999, deu “um jeitão”? ; o banco foi forçado a desaparecer “por maldade” do Banco de Portugal?

18:44 - "Foi um erro a destruição do BES. Tínhamos uma equipa de primeiríssima ordem. E o Novo Banco tem condições de singrar. Veja bem o que é substituir uma marca com 145 anos por, desculpe-me a expressão, uma marca branca. Acredita que algum cliente sente confiança nestas circunstâncias?" 

18:54 - Salgado confirmou que recorreu a três RERT’s, regimes de regularização fiscal (perdões fiscais). “Quem aprovou os RERT’s foi o Parlamento português”. E regimes de regularização não são uma invenção portuguesa, desdramatizou, referindo que quando viveu na Suíça assistiu a programas idênticos noutros países, como Itália. “Acredito ter sido dos portugueses que mais pagaram impostos” desde 1992 até agora.

18:56 - Ricardo Salgado insiste na ideia de não atacar ninguém da família, mas não resiste a deixar uma farpa a José Maria Ricciardi, depois de ter sido confrontando com as denúncias do primo ao Banco de Portugal: "“O Dr. Ricciardi teve um comportamento, no mínimo, muito curioso. Certamente, se fez alguma denúncia ao BdP deve ter tido alguma contrapartida por isso.”

19:04 - Mais um nome, ausente, falado na sala: desta vez, Manuel Pinho, quadro do BES e ex-ministro da Economia no Governo de José Sócrates. Salgado rejeita ter contribuído para o seu percurso político. “O dr. Manuel Pinho resolveu ter uma participação política” como ministro, é “um homem muito inteligente”. “Não contribuí absolutamente com nada”.

19:16 - Dez horas depois, às 19h14, a longa audição de Ricardo Salgado terminou. A seguir, começou a ser ouvido o primo José Maria Ricciardi, cujas principais ideias pode acompanhar aqui

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