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domingo, 26 de janeiro de 2014

Em Outubro, vá ao Parlamento mostrar as recordações do avô que combateu na primeira guerra

Soldado português numa trincheira em França, num posto telefónico na 1.a linha DR

LUÍS MIGUEL QUEIRÓS (http:// www.publico.pt/autor/luis-miguel-queiros-   26/01/2014-11:53

Portugueses desafiados a mostrar no Parlamento memorabilia de familiares envolvidos na guerra.

Nos dias 16,17 e 18 de Outubro, os portugueses que guardam memórias de parentes que combateram na I Guerra Mundial serão convidados a ir à Assembleia da República mostrar essas relíquias familiares - postais, cartas, fotografias, medalhas, capacetes, mapas, diários, fardas, objectos do quotidiano – e contar as historias que lhe estão associadas. Com organização do Instituto de História Contemporânea (IHC) da faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova em conjunto com o Parlamento, esta espécie de collection day, no qual irão ainda colaborar várias outras instituições, promete ser um dos acontecimentos mais mediáticos deste primeiro ano de evocacão da guerra de 1014-1918.
Teremos gente preparada para entrevistar as pessoas e recolher as suas memórias”, explica a presidente do IHC, a historiadora Fernanda Rollo, e os objectos serão reproduzidos, ficando as pessoas com os originais, a menos que queiram doá-los.

Esta e outras iniciativas da sociedade civil irão complementar, para dizer o mínimo, o programa oficial que está a ser desenhado pela Comissão Coordenadora das Evocações do Centenário da I Guerra Mundial, nomeada em 2012 pelo ministro da Defesa, José Pedro Aguiar Branco, e presidida pelo tenente general Mário de Oliveira Cardoso. A designação “evocações” não foi escolhida por acaso: “Não queremos comemorar nem celebrar nada, o que procuramos é evocar uma memória colectiva e valorizar o sacrifício dos soldados portugueses”, diz o presidente da Comissão, que integra representantes dos diferentes ramos das Forças Armadas, e ainda da Liga dos Combatentes e da Comissão Portuguesa de História Militar.

Alguns dos países que integraram as potências vitoriosas em 1918, como a França e a Inglaterra, estão a investir fortemente nestas comemorações, tanto ao nível simbólico como financeiro. Não é manifestamente o caso de Portugal, quer pelas limitações que a crise impõe, quer talvez pela consciência de que, mesmo estando do lado dos vencedores, o país teve muito pouco a ganhar com este conflito, que mobilizou mais de cem mil soldados portugueses, dos quais 7760 perderam a vida e cerca de 16 mil sofreram ferimentos, e ainda outros foram feitos prisioneiros ou desapareceram.

Oliveira Cardoso diz ter já um orçamento indicativo para os cinco anos que durará este programa, até 2018, e um orçamento para este ano de 2014 “adequado às actividades” programadas, mas prefere não adiantar números. As iniciativas previstas incluem alguns  momentos mais institucionais, como as comemorações do dia do combatente, a 9 de Abril, no mosteiro da Batalha, ou a homenagem nacional aos mortos da guerra, a 18 de Outubro, que incluirá o descerramento simultâneo de placas alusivas em capitais de distrito, ou ainda a celebração do armistício, que a Liga dos Combatentes organizará em Novembro no Forte do Bom Sucesso, em Belém.

Mas o grande objectivo da comissão, afirma o seu presidente, é estudar e divulgar a presença portuguesa na guerra, quer através de conferências e colóquios, quer apoiando projectos de investigação. Oliveira Cardoso sublinha em especial a importância da pouco estudada primeira fase da participação de Portugal na guerra, com o envio para África, logo em 1914, de tropas encarregadas de defender as colónias ameaçadas pela Alemanha, em particular Moçambique. “Houve mais mortos em África do que na Flandres”, nota o militar.

Além de iniciativas mais circunscritas ao mundo militar, divulgadas no portal 
que em breve disporá de um memorial virtual com os soldados portugueses mortos no conflito —, “a comissão tem já previsto, para o início de Setembro, um colóquio sobre o papel desempenhado na guerra de 1914-18 pelas pequenas e médias potências, co-organizado pelo Instituto de Defesa Nacional, pelo Instituto de Ciências Sociais e pelo IHC.

Oliveira Cardoso gostaria também de promover em 2016, ano em que se cumpre o centenário da declaração de guerra da Alemanha a Portugal, “um seminário que contasse a história da guerra à luz dos dias de hoje”, um projecto que está ainda a “debater com especialistas”.

Certo é que algumas das ideias mais fortes desta comissão só deverão ocorrer a partir de 2016: uma “grande exposição”, a construção de uma réplica do avião Spad VII, tripulado por pilotos portugueses enquadrados em esquadrilhas francesas, ou ainda o levantamento dos navios afundados na costa algarvia, em 1917, pelo submarino alemão U35. Estão já também a ser feitos contactos com a RTP para a realização de uma série televisiva que evoque a participação de Portugal na guerra e as circunstâncias em que esta se deu.

Batalha do Somme com orquestra
Para este ano de 2014, o programa oficial até agora anunciado é bastante modesto, mas será enriquecido por iniciativas de várias instituições. Já no final deste mês, no dia 30, o Instituto Francês promove em Lisboa a “conferência cruzada” Uma História Mundial da Grande Guerra, com o historiador e ex- ministro Nuno Severiano Teixeira e o especialista francês Nicolas Offenstadt, exibindo no dia seguinte o documentário Os Portugueses nas Trincheiras, de António Louçã e Sofia Leite.
Mas os mais importantes contributos até agora anunciados vêm do IHC, que está a organizar uma série de colóquios que decorrerão ao longo do ano, a começar por Resisting War in the 20th Century, entre 27 de Fevereiro e 1 de Março, e A Europa Entre Guerras (1919-1939), a realizar nos dias 3 e 4 de Abril. Em Julho, será a vez de um colóquio sobre África e a primeira guerra, e no final de Novembro realizar-se-á um encontro dedicado ao tema dos prisioneiros de guerra no século XX. E na primeira metade de Outubro, a preceder o collection day no Parlamento, haverá um outro colóquio, cujo tema e datas ainda não foram anunciados.

Os projectos para evocar a guerra que envolvem a equipa de investigadores do IHC estão centralizados no portal Portugal 1914 www.portugal1914.org/ , desenvolvido com diversos parceiros, nacionais e internacionais, e onde já é possível consultar uma detalhada cronologia da participação portuguesa na guerra, ou ler biografias de soldados e de outros intervenientes, entre muitos outros materiais.

O portal inclui um apelo para que quem conserve memórias de familiares envolvidos na guerra permita que essas peças sejam digitalizadas e estudadas. E a julgar pelas muitas respostas já obtidas, Fernanda Rollo está convencida que a operação Collection no Parlamento vai ter uma grande adesão. Para já, os materiais recebidos estão a ser reproduzidos e enviados para a Europeana 14-1918, um projecto que está a reunir este mesmo tipo de materiais à escala europeia.

Outros projectos já confirmados, mas ainda sem data marcada, são a edição do dicionário Portugal e a Primeira Guerra, a sair numa edição conjunta da Temas & Debates e do Círculo de Leitores, e a exibição de um filme da época sobre a batalha do Somme, uma das mais longas e sangrentas da primeira guerra. “Estamos a tentar fazê-la ao ar livre e com acompanhamento ao vivo de uma orquestra”, diz Rollo.


Juntamente com Filipe Ribeiro de Meneses, biógrafo de Salazar e professor na universidade de Maynooth, na Irlanda, e da historiadora Ana Paula Pires, sua colega na Universidade Nova e especialista na participação portuguesa na I Guerra Mundial, Fernanda Rollo é ainda responsável pela secção portuguesa do projecto 1914-1918 online - International Encyclopedia ofthe First World War, uma obra de referência virtual sobre a primeira guerra.

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