Eleições Criticando o método como os partidos formam listas, Elisa Ferreira questiona: no lado da coligação, quem tratará dos assuntos económicos?
Bruno Proença e
Rosário Lira
Estas eleições europeias vão ser especiais,
pois vão ser debatidos temas fundamentais para o futuro próximo de Portugal,
nomeadamente o pós-troika.
Essa é uma peça, outra é colocar na agenda aquilo que falta na união
bancária, quais são as funções de um banco central.
Não podemos continuar com um BCE que só trata da inflação quando nós temos
um problema de deflação. Enquanto relatora do ‘two-pack’ exigi uma análise
sobre a possibilidade de termos um fundo de amortização comum da dívida
soberana.
Os resultados da primeira análise vão ser apresentados em Bruxelas,
precisamente porque acima de 60% temos de arranjar uma maneira de protelar os prazos e baixar os custos
dessa dívida.
Isso é uma reestruturação
da dívida?
Não é se pensarmos...
No sentido da proposta no manifesto...
Reestruturação,
a nível europeu, tem sido utilizado para dizer que não se
paga uma parte.
Se o termo que está no manifesto fosse renegociação da dívida, eu estaria
de acordo.
Neste momento, estou a explorar até ao limite a possibilidade de gerirmos
em comum a dívida acima dos 60% do PIB.
Testamos várias coisas: eurobonds, eurobilds...
Tem de estar na agenda.
Quando olho para a lista da coligação às europeias, a minha pergunta
fundamental é quem é que vai tratar dos assuntos económicos.
Ao longo dos mandatos, primeiro articulava-me com Silva Peneda, que tinha
uma grande influência no grupo PPE, agora estávamos a fazer esta negociação com
Diogo Feio, que começava a ter prestígio e a influenciar a agenda do PPE.
Olho para a lista da coligação, Diogo Feio sai.
Para tratar de legislação bancária, legislação de mercados financeiros,
quem é que estará lá neste mandato?
É um dos aspectos que António José Seguro fez bem ao organizar a lista.
Definiu temas e a União Económica e Monetária foi um deles.
Mas também há críticas à lista do PS,
nomeadamente a saída de Capoulas dos Santos que era reconhecidamente um dos
maiores especialistas na área da agricultura.
E fez um trabalho espectacular.
Eu não falo por António José Seguro.
Capoulas dos Santos foi uma pessoa, na área da agricultura, fundamental.
Fez a reforma da PAC.
Então porque é que sai?
Não sei, não fui eu que fiz a lista, não me pergunte para além da minha
competência.
Nem sequer sou do partido.
Discorda da metodologia usada pela coligação PSD/CDS e pelo PS na formação das listas, abusando da
rotatividade e das substituições?
Não podemos olhar para o Parlamento Europeu como uma espécie de
prateleira dourada para as pessoas serem premiadas por isto ou por aquilo.
Grande parte da agenda nacional é definida a nível europeu, a ideia de que
do lado de lá estão os nossos amigos...
Não são amigos, são accionistas e nós também somos accionistas e temos de
defender os nossos interesses. Faltam peças na Europa e nós temos de cavalgar
os espaços que tivermos de influência na agenda europeia.
E a lista do PS conseguirá colocar dez
deputados?
Acho que sim.
Os cidadãos percebem o resultado que deu a agenda anterior, com os ovos todos
do lado da direita.
Foi dificílimo parar a troika, foi dificílimo regular os mercados
financeiros.
Qual será o tom desta campanha? O
Presidente da República pediu contenção de linguagem, até a bem de consensos
que possam existir.
Os consensos têm de existir, mas os consensos têm de ter sentido, não podem
ser para as partes ficarem caladas e deixarem de fazer o controlo
democrático.
Um consenso a sério tem de ser para a agenda europeia.
Troikas não!
Isto não funcionou.
Faltam peças na construção da União Europeia, não vale a pena continuarmos
a dizer que a culpa é, em Portugal, do Sócrates...
O PS tem uma alternativa para Portugal?
Claro que temos uma agenda alternativa.
O que é errado é que, quando vamos discutir a agenda para as europeias, não
façamos mais do que se diz todos os dias nas televisões.
Foi um erro crasso o que se fez em Portugal.
Os multiplicadores estavam errados, os efeitos do ajustamento foram muito
mais recessivos do que se esperava. O resultado em termos de desemprego e de
recessão foi duplo.
Se a vitória do PS não for esmagadora, pensa
que a liderança de António José Seguro pode estar em casa.
Isso, como dizem os ingleses, ultrapassa o meu nível de competência.
Não faço a mínima ideia.
Não sou membro do partido, não participo nas discussões internas
António Guterres seria
o seu candidato à Presidência?
Ele teria muito perfil
para isso.
Aquilo que me desiludiu
com Cavaco Silva foi não ter percebido quais eram as consequências de reprovar
o PEC IV e não senti que tivesse feito, enquanto Presidente da República, tudo
o que estava ao seu alcance para evitar que Portugal fosse empurrado para um
cadafalso
‘Reestruturação’, a nível europeu, tem sido utilizado para dizer não se
paga uma parte.
Se o termo que está no manifesto fosse renegociação da
dívida, eu estaria de acordo.
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