EDITORIAL
Diogo Queiroz de Andrade
27 de Janeiro de 2018, 7:19
Quando as “forças progressistas” da Europa criticam o Brasil pela condenação de Lula, estão a prestar um mau serviço à nação sul-americana e um péssimo serviço à esquerda que dizem amar.
A guerra entre a classe política brasileira e o sistema judicial já fez uma vítima: a democracia brasileira.
Tudo aquilo de que o Brasil não precisa é de uma eleição presidencial em ambiente de guerra civil – mas é precisamente isso que vai ter em Outubro.
A endémica corrupção brasileira subsiste graças a uma elite corrupta que há décadas rouba o Brasil e que tem o condão de sujar quem quer que dele se aproxime.
O PT tem as mãos tão emporcalhadas que faria um favor à nação se simplesmente sumisse e levasse com ele Lula – um homem que está tão assustado com a possibilidade de ir parar à cadeia que já se compara a Nelson Mandela e exige que as forças armadas o resgatem do presídio, caso lá chegue.
A triste realidade é que Lula e o PT são tão parte do problema brasileiro como Michel Temer e Fernando Collor.
E forçar esta guerra entre a justiça e a classe política só vai garantir que mais uma vez não existirão condições para que a escolha seja plenamente democrática: o debate político está contaminado e será impossível discutir o futuro do Brasil.
Quando as “forças progressistas” da Europa criticam o Brasil pela condenação de Lula, estão a prestar um mau serviço à nação sul-americana e um péssimo serviço à esquerda que dizem amar.
É certo que a causa brasileira tem laivos românticos que excitam os velhos rebeldes sem causa a quem poucos já dão importância: o tropicalismo da “causa Lula”, espesso como uma folha de papel, dá a estes intelectuais reformados a oportunidade para fugir à irrelevância e ajudam a manter a ilusão de que o mundo não mudou.
Mas mudou.
E o Brasil tem de mudar com ele.
Aliás, a principal razão para a fraqueza democrática do Brasil é a asfixia da classe média que se agravou neste século, durante o reinado do PT: os pobres melhoraram muito a sua condição mas os milionários também, quem sofreu foi a classe intermédia que pagou as benesses dos pobres e depois levou com uma crise económica sustentada pela tremenda incompetência do estado.
Por tudo aquilo que o Brasil pode ser e não é, o século XXI brasileiro só pode ser classificado de tragédia.
E se há povo que merece melhores políticos, é seguramente o brasileiro.
Até porque não se vislumbra quem possa, de entre os pré-candidatos, vir a ocupar condignamente o posto de Presidente do Brasil.
Por agora, tudo está calmo: o carnaval está quase aí, a folia vai começar e as eleições são só em outubro.
A tragédia segue dentro de momentos.
dqandrade@publico.pt
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