A GUERRA NA SÍRIA
Maria João Guimarães
13 de Julho de 2018, 19:33
Regime sírio declara a conquista da cidade que foi o berço da revolta contra o líder em 2011.
Mas muitas das 250 mil pessoas que fugiram da ofensiva continuam no deserto, sem abrigos ou condições.
Deraa foi tomada pelas forças do regime, anunciaram os media estatais sírios, descrevendo que pela primeira vez em sete anos as forças de Bashar al-Assad entraram na cidade e içaram a bandeira síria. Enquanto isso, cerca de 250 mil pessoas que fugiram da ofensiva governamental estão em condições precárias no deserto na parte Sul do país.
E na parte oriental do país, na fronteira com o Iraque, havia relatos de um ataque norte-americano contra combatentes do Daesh que deixou dezenas de mortos, incluindo também civis.
A tomada de Deraa na quinta-feira pelas forças do regime é de enorme importância extrema para o regime.
Foi aí que nasceram os protestos contra Assad, inspirados nos movimentos de revolta na Tunísia e no Egipto.
A primeira acção foram uns rabiscos contra Assad grafitados numa parede por um grupo de homens e adolescentes, em Março de 2011.
Estes foram detidos, e dias depois mortos com sinais de tortura (unhas arrancadas, um dos corpos, de um rapaz de 13 anos, não tinha genitais).
Depois da tomada de Deraa na quinta-feira um deputado leal a Assad, Fares Shehabi, perguntava no Twitter se tinham encontrado as unhas dos rapazes.
O caso provocou uma onda de indignação e mais protestos, que foram brutalmente reprimidos; os revoltosos começaram a usar armas e o conflito transformou-se numa guerra civil, que se complicou com a entrada em cena de grupos islamistas que lutaram com ou contra os rebeldes.
O apoio militar do Irão e do grupo xiita libanês apoiado por Teerão Hezbollah, e sobretudo o da Rússia, ajudaram Assad a recuperar território e a conquista de Deraa é uma das últimas vitórias.
Entretanto, morreram mais de 350 mil pessoas e 11 milhões deixaram as suas casas.
A ofensiva a Deraa foi responsável por um dos maiores episódios de deslocação do conflito, diz o diário britânico The Guardian.
Temendo operações semelhantes às de Ghouta Oriental, meses antes, em que morreram mais de 2000 pessoas em ataques particularmente violentos e indiscriminados, mais de 250 mil civis fugiram para zonas de fronteira, ou com Israel ou com a Jordânia.
Enquanto a maioria dos que estavam perto da Jordânia regressaram às suas casas quando as aldeias assinaram tréguas com o regime, os que estão perto de Israel – que eram cerca de 70% do total, diz a ONU – mantinham-se lá.
Segundo o Gabinete para a Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU, estão em condições “terríveis”, a dormir em automóveis ou no chão, sem acesso a água potável e com provisões alimentares a terminar.
Pelo menos 12 pessoas morreram por desidratação (as temperaturas chegam a 45 graus), água contaminada ou picadas de escorpiões.
Ainda na zona, mísseis israelitas abateram esta semana dois drones vindos de território sírio, um na quarta-feira feira e outro na sexta – numa das vezes a retaliação foi contra posições do Hezbollah na parte Sul da Síria.
Israel disse várias vezes que não permitiria a presença de forças ligadas ao Irão tão perto do seu território.
Enquanto isso, um ataque norte-americano atingiu uma posição do Daesh, que mantém uma pequena presença perto da fronteira com o Iraque, matando 54 pessoas, das quais 28 eram civis, segundo o grupo Observatório Sírio para os Direitos Humanos.
O observatório, com sede em Londres, disse ainda que a maioria dos civis mortos eram iraquianos.
Os Estados Unidos confirmaram um ataque na zona, mas disseram não ter mais informação.
maria.joao.guimaraes@publico.pt
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