A GUERRA NA SÍRIA
Maria João Guimarães
22 de Julho de 2018, 10:37
Acção inédita desde o início da guerra na Síria em 2011 foi pedida pelo Reino Unido, Alemanha e Canadá.
Numa operação inédita desde o início da guerra da Síria, Israel levou centenas de membros da Defesa Civil Síria, mais conhecida como Capacetes Brancos, através da sua fronteira nos Montes Golã, para a Jordânia, onde estes voluntários da organização de socorristas ficarão três meses antes de seguir para os países que lhes prometeram refúgio e que pediram esta operação: Reino Unido, Canadá e Alemanha.
Primeiro falou-se de 800 sírios, mas fontes jordanas disseram à Reuters que chegaram apenas 422 socorristas no âmbito da operação. Muitos não conseguiram chegar à fronteira, aparentemente por problemas com o aumento de postos de controlo do regime sírio na zona. Aumentaram também os combatentes do Daesh na área – cerca de 1000 a 1500, estima-se, e têm sido alvo de bombardeamentos do regime de Assad nos últimos dias.
A operação que envolveu a retirada dos Capacetes Brancos e as suas famílias (muitos dos transportados eram crianças; familiares dos socorristas ou órfãos da guerra) foi feita a pedido de vários países. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nomeou os Estados Unidos e o Canadá, o Reino Unido disse que o pedido foi feito por Londres, Paris e Otava. A razão: os socorristas estavam encurralados numa zona em que tropas do regime avançavam e havia uma “ameaça imediata às suas vidas”.
“A vida destas pessoas, que salvaram vidas, estava em perigo”, sublinhava uma declaração oficial do Governo de Israel. “Os Capacetes Brancos são os mais corajosos de todos”, dizia o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, no Twitter.
Desde a sua formação, em 2013, mais de 200 voluntários dos Capacetes Brancos morreram e 500 foram feridos, diz o Guardian. A sua maior acção era a de resgate de pessoas soterradas sob escombros de bombardeamentos aéreos.
O seu financiamento – de uma série de Governos, incluindo Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos, além de verbas de privados – e ligações a outros países onde receberam treino em técnicas de busca e salvamento, como a Turquia, fazem com que sejam apresentados como agentes estrangeiros pelo regime.
Também as filmagens de brutais ataques do regime (os capacetes têm câmaras de filmar), incluindo ataques químicos suspeitos ou mais tarde confirmados, os tornam incómodos – o que os deixava em perigo com a aproximação das tropas de Assad. Outro perigo era também a presença do Daesh, que também vê os Capacetes Brancos como "infiéis".
Imagem de uma operação no ano passado em Armanaz, uma zona rural no Norte da Síria |
Numa operação inédita desde o início da guerra da Síria, Israel levou centenas de membros da Defesa Civil Síria, mais conhecida como Capacetes Brancos, através da sua fronteira nos Montes Golã, para a Jordânia, onde estes voluntários da organização de socorristas ficarão três meses antes de seguir para os países que lhes prometeram refúgio e que pediram esta operação: Reino Unido, Canadá e Alemanha.
Primeiro falou-se de 800 sírios, mas fontes jordanas disseram à Reuters que chegaram apenas 422 socorristas no âmbito da operação. Muitos não conseguiram chegar à fronteira, aparentemente por problemas com o aumento de postos de controlo do regime sírio na zona. Aumentaram também os combatentes do Daesh na área – cerca de 1000 a 1500, estima-se, e têm sido alvo de bombardeamentos do regime de Assad nos últimos dias.
A operação que envolveu a retirada dos Capacetes Brancos e as suas famílias (muitos dos transportados eram crianças; familiares dos socorristas ou órfãos da guerra) foi feita a pedido de vários países. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nomeou os Estados Unidos e o Canadá, o Reino Unido disse que o pedido foi feito por Londres, Paris e Otava. A razão: os socorristas estavam encurralados numa zona em que tropas do regime avançavam e havia uma “ameaça imediata às suas vidas”.
“A vida destas pessoas, que salvaram vidas, estava em perigo”, sublinhava uma declaração oficial do Governo de Israel. “Os Capacetes Brancos são os mais corajosos de todos”, dizia o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros, Jeremy Hunt, no Twitter.
Desde a sua formação, em 2013, mais de 200 voluntários dos Capacetes Brancos morreram e 500 foram feridos, diz o Guardian. A sua maior acção era a de resgate de pessoas soterradas sob escombros de bombardeamentos aéreos.
O seu financiamento – de uma série de Governos, incluindo Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos, além de verbas de privados – e ligações a outros países onde receberam treino em técnicas de busca e salvamento, como a Turquia, fazem com que sejam apresentados como agentes estrangeiros pelo regime.
Também as filmagens de brutais ataques do regime (os capacetes têm câmaras de filmar), incluindo ataques químicos suspeitos ou mais tarde confirmados, os tornam incómodos – o que os deixava em perigo com a aproximação das tropas de Assad. Outro perigo era também a presença do Daesh, que também vê os Capacetes Brancos como "infiéis".
Capacetes Brancos procuram sobreviventes de um bombardemamento em Idlib |
A operação foi preparada durante várias semanas, conta o diário hebraico Ha’aretz. Os membros dos Capacetes Brancos receberam instruções para se dirigir a um de dois pontos juntos à fronteira. Israel encerrou estradas na região – neste momento, já não é tão raro que isto aconteça, e ocasionalmente o acesso à zona é restrito pelas autoridades militares, por disparos do outro lado ou outras ameaças.
Uma lista de nomes
Às 23h de sábado, os militares israelitas, munidos com uma lista exacta dos nomes dos que poderiam passar, abriram os postos de controlo. Foi uma altura de tensão: os socorristas ainda poderiam ser atacados ao atravessar para Israel. Mas isso não aconteceu, e rapidamente entraram nos autocarros que os levaram para a Jordânia –sem paragens.
Do outro lado da fronteira, os passageiros passaram para autocarros jordanos, pelas 6h de domingo, e foram levados para um campo da responsabilidade do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, diz ainda o Ha’aretz.
Fonte jordana sublinhou à agência Reuters que aí ficarão não mais do que três meses antes de seguirem para a Europa e Canadá.
Muitos outros civis (270 mil segundo a ONU) fugiram no último mês dos bombardeamentos russos e sírios na zona Sul da Síria para as zonas de fronteira com Israel e Jordânia– mas ambos os países disseram que não permitiriam a entrada de ninguém. A Jordânia justificou-se com o número já elevado de refugiados sírios no país (que são, diz Amã, mais do que os 650 mil registados oficialmente) e alega que não tem capacidade para mais.
Israel tem permitido, desde 2013, a entrada a alguns sírios doentes ou feridos para tratamento hospitalar. Estes mantêm-se no país apenas durante a duração do tratamento e depois regressam à Síria. Muitos deles são crianças feridas em ataques, muitos outros serão combatentes – os médicos não perguntam.
Apesar de Israel e a Síria não terem relações diplomáticas, serem um dos principais inimigos um do outro, e de Israel ter ocupado em 1967 os Montes Golã, território que depois anexou (uma acção não reconhecida pela comunidade internacional), este fluxo tem sido pequeno mas constante – o exército tornou-a mesmo em 2016 numa operação formal com o nome Bom Vizinho.
Israel mantém que é neutro na guerra na Síria, mas intervém para impedir avanços de posições das unidades iranianas ou do Hezbollah, a milícia xiita libanesa apoiada pelo Irão. Este domingo, terá voltado a atacar um alvo considerado como de produção de armas químicas onde havia "presença iraniana", segundo o Ha'aretz.
No entanto, a recente ofensiva no Sul da Síria deverá deixar em breve o regime em controlo total da região, e o exército sírio voltará às suas posições perto dos Montes Golã que ocupavam antes do início da guerra civil em 2011.
Quanto aos rebeldes e opositores do regime, a maioria escolheu sair da região em direcção a Idlib, que é agora a última região do país onde há opositores. Além dos combatentes, tanto opositores seculares como jihadistas, nota o Guardian, estão ainda na região cerca de dois milhões de civis deslocados. Organizações de defesa dos direitos humanos temem agora o que poderá ser o ataque do regime à última zona da oposição, lembrando a brutalidade de ofensivas anteriores como em em Ghouta.
maria.joao.guimaraes@público.pt
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