Ilia Khalamov
Hoje, 13:44
0 Maidan de Kiev, que levou a um
golpe armado e a uma guerra civil sangrenta no Leste da Ucrânia, tinha objetivos nobres: lutar contra a corrupção e o poder dos oligarcas, aproximar o país
dos padrões europeus, pôr o Estado sob o controle do povo.
Porém, como
resultado, ao comando estão personagens bem conhecidos: multimilionários e políticos que já
provaram a sua incompetência em longos anos de serviço público. Por isso, o
mais provável é que seja inevitável um novo Maidan, uma nova revolução. Ela
pode começar já no outono, quando, segundo os prognósticos de analistas, a
Ucrânia se aproximar ao máximo do colapso económico.
A
ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko é um dos adeptos mais ferrenhos da exclusividade
da nação ucraniana e da independência da Ucrânia. Tornou-se
um dos símbolos da
resistência ao "regime criminoso" de Viktor Yanukovich e, como foi
anunciada, da revolução purificadora. Mas, numa análise atenta, este símbolo
tem insuficiências substanciais, mesmo não obstante a aura de martírio formada
pela passagem de Tymoshenko pela prisão. Em tempos, esta dama foi uma grande
mulher de negócios e, depois, ganhou raízes sólidas na hierarquia do poder de
Estado. E teve tempo de fazer estragos.
Por isso, no mínimo,
não é justo afirmar que Yulia Tymoshenko é uma fresca lufada de democracia e de
mudança do poder, o que foi repetido vezes sem fim na praça da Independência.
Ela é carne e osso do sistema oligárquico formado na Ucrânia. A propósito, não
foi por acaso que, após o seu regresso triunfal da cadeia e do aparecimento na
praça da Independência numa cadeira de rodas, muitos não gostaram do fato de
ela ter vindo num cortejo de automóveis estrangeiros caros. Isso parece uma
insignificância, mas é bastante sintomático.
Arseni Yatsenyuk e
Alexander Turchinov não são figuras menos odiosas, que, por razões estranhas,
se tornaram os chefes da pseudo-revolução. Serguei Panteleev, analista
político, assinalou que as novas autoridades de Kiev são, na realidade, as
mesmas que eram antes:
"Yatsenyuk e
Turchinov são pessoas que estão há muito no sistema de poder. Turchinov está diretamente ligado ao grupo de
Yulia Tymoshenko e muitos consideram que ele esteve ligado à campanha
eleitoral, porque os métodos de força que eles empregaram durante a preparação
das eleições jogaram também a favor de Yulia Tymoshenko, que tentou afirmar-se com posições
radicais, que, a propósito, não lhe ajudaram. No que diz respeito a Yatsenyuk,
este foi lançado para o cargo de primeiro-ministro graças aos acontecimentos na
praça da Independência. Porque é que os EUA apostaram neles? Porque eles são
absolutamente controláveis".
Arseni Yatsenyuk teve
tempo de ocupar os cargos de ministro da Economia, Relações Exteriores e
presidente da Rada Suprema, dedicou-se aos negócios, o que é próprio dos
"heróis do Maidan", trabalhou no Banco Nacional e no secretariado do
presidente. Eis um estranho
representante das amplas massas da população. Ele cooperou com partidos
pró-europeus e nacionalistas, lutou ativamente com a "maldita" herança
soviética".
Ganhou várias
alcunhas negativas, como, por exemplo, Coelho, no seu trabalho incansável em
prol da Ucrânia.
Alexander Turchinov é
também um velho apparatchike braço direito de Yulia
Tymoshenko no partido Pátria. Em diferentes anos, ele foi deputado do
parlamento, dirigiu o Serviço de Segurança da Ucrânia, manteve ligações
estreitas com Viktor Yuschenko, líder da "revolução laranja", que
terminou sem glória a sua carreira política.
Depois do golpe, no
início do ano corrente, Turchinov tornou-se presidente interino do país, mas
antes esteve envolto numa série de escândalos. Atribuem-lhe também uma
participação ativa numa das igrejas não
tradicionais. Alexander Guschin, analista político, considera que não se deu
qualquer mudança na elite da Ucrânia:
"Não teve lugar
qualquer mudança radical do processo político. Claro que Poroshenko, Turchinov
e Yatsenyuk representam diferentes correntes, mas, quando da nomeação de novas
pessoas para cargos fulcrais, eles serão determinados pelo nível do acordo entre
Poroshenko e Yatsenyuk. Os meses mais própximos irão determinar o consenso que
se formará se for conseguido entre os grupos fnanceiro-industrais".
Desse modo, a energia
de protesto do Maidan foi utilizada para os seus fins próximos por aqueles que,
por definição, não podem ser considerados representantes do povo e lutadores
pelos seus direitos. E a promessa dos dirigentes da chamada revolução à
sociedade ucraniana de políticos novos, jovens e enérgicos, foi uma farsa banal
e um engano. A velha elite, que já várias vezes errou, que levou o país ao
caos, decidiu conservar o poder por tempo indefinido. Até um novo Maidan, sobre
o qual se fala cada vez mais em Kiev.
Sem comentários:
Enviar um comentário