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sábado, 7 de junho de 2014

Novo Presidente da Ucrânia diz que nunca renunciará à Crimeia

Os russos gostaram do discurso de Petro Poroshenko
MARIA JOÃO GUIMARÃES 07/06/2014 - 18:48
Na tomada de posse, Petro Poroshenko confirmou que vai assinar um acordo com a União Europeia e estendeu a mão ao Leste falando de uma “completa descentralização do poder”.

Num discurso combativo e emotivo, o novo Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko prometeu fazer tudo para acabar com o conflito mas avisou que nunca reconhecerá a anexação da Crimeia pela Rússia,na sua tomada de posse, este sábado.

“Prometo com todas as minhas forças proteger a soberania e a independência da Ucrânia”, afirmou o multimilionário de 48 anos, conhecido no país como o “rei do chocolate” por ser dono de um dos maiores fabricantes de confeitaria e chocolates na Europa.
Também garantiu que irá continuar o caminho europeu do país e assinar o acordo com a União Europeia, que desagrada a Moscovo.

Depois de na véspera, durante as cerimónias do Dia D na Normandia, Poroshenko se ter encontrado com o Presidente russo, Vladimir Putin, surgem os primeiros sinais de uma vontade de entendimento. O Presidente russo disse ter gostado da abordagem de Poroshenko mas querer esperar para ver o que este fará (a Rússia não reconhece a sua eleição). O líder ucraniano comentou que “o diálogo começou”.

Poroshenko também quis ter um tom conciliatório. “Não quero guerra, não quero vingança, apesar do grande sacrifício do povo ucraniano. Quero paz e quero que a paz aconteça”, declarou. “Os cidadãos da Ucrânia nunca vão gozar a beleza da paz a não ser que resolvamos as nossas relações com a Rússia,” disse.

Mas há linhas vermelhas: “A Rússia ocupou a Crimeia que era, e continua a ser, solo ucraniano”, disse, recebendo aplausos no Parlamento, onde se encontravam alguns governantes estrangeiros — incluindo o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. “Disse-o claramente ao líder russo na Normandia”, acrescentou, referindo-se ao encontro da véspera com Putin.

“Não pode haver negociações sobre a Crimeia, nem sobre a escolha europeia, nem sobre o sistema governamental”, disse Poroshenko. “Todas as outras coisas podem ser negociadas e discutidas à mesa de negociações. Mas quaisquer tentativas de escravização da Ucrânia vão encontrar resistência resoluta.”

Apesar de não haver qualquer perspectiva da Rússia desistir da Crimeia, onde um referendo feito à pressa e marcado por irregularidades deu uma maioria pela secessão da Ucrânia e optou por se juntar à Rússia, Putin deu já um sinal visto como positivo: ordenou, este sábado, que a vigilância das fronteiras entre a Rússia e a Ucrânia fosse fortalecida para impedir passagens ilegais. Vários líderes ocidentais, como o Presidente norte-americano, Barack Obama, tinham apelado ao Presidente russo para impedir o apoio aos separatistas pró-Rússia no Leste da Ucrânia. Moscovo tem negado apoio aos rebeldes no Leste da Ucrânia, que tem neste momento locais que são zonas de guerra, mas jornalistas têm encontrado russos a combater.

O novo Presidente ucraniano quis deixar uma saída aos combatentes pró-Rússia: “Por favor, baixem as armas e eu garanto imunidade a todos os que não tiverem as mãos manchadas de sangue”, disse, falando ainda de um corredor seguro para a passagem de combatentes russos para a Rússia.

Passando do ucraniano para a língua russa, prometeu uma visita ao Leste do país. Será “em breve, com a mensagem da paz e a garantia do uso livre da língua russa". Disse ainda que a região poderia beneficiar de uma “completa descentralização do poder”, evocando a possibilidade de eleições regionais antecipadas.

Na região, os rebeldes não se manifestaram impressionados com esta oferta. “O que eles querem realmente é um desarmamento unilateral e a nossa rendição. Isso nunca acontecerá na República Popular de Donetsk”, disse um alto responsável separatista, Fiodor Berezin, por telefone, à agência Reuters. “Enquanto houver tropas ucranianas no nosso território, acho que tudo o que Poroshenko quer é a subjugação. A luta vai continuar”, prometeu.

Noutra cidade do Leste nas mãos dos insurrectos, Luansk, o líder separatista Valeri Bolotov rejeitou liminarmente a oferta de Poroshenko. “Os ucranianos fizeram a sua escolha e têm de viver com ela. No que diz respeito à nossa república, não temos relações diplomáticas com a Ucrânia.”

O embaixador da Rússia na Ucrânia, Mikhail Zurabov, classificou o discurso como “uma prometedora declaração de interesses”, dizendo no entanto que a Ucrânia deveria terminar a sua operação no Leste, aceitando um cessar-fogo e deixando entrar ajuda humanitária. Responsáveis russos e ucranianos deverão encontrar-se hoje para discutir a crise.


Os confrontos continuaram durante o dia: o exército bombardeou o bastião rebelde de Slaviansk e a cidade de Mariupol. O ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier, aconselhou o Governo Ucraniano a usar com cautela a força militar na região para não dar mais ímpeto aos separatistas.





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