Os russos gostaram do discurso de
Petro Poroshenko
MARIA JOÃO GUIMARÃES 07/06/2014 - 18:48
Na tomada de posse,
Petro Poroshenko confirmou que vai assinar um acordo com a União Europeia e
estendeu a mão ao Leste falando de uma “completa descentralização do poder”.
Num discurso
combativo e emotivo, o novo Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko prometeu fazer
tudo para acabar com o conflito mas avisou que nunca reconhecerá a anexação da
Crimeia pela Rússia,na sua tomada de posse, este sábado.
“Prometo com todas as
minhas forças proteger a soberania e a independência da Ucrânia”, afirmou o
multimilionário de 48 anos, conhecido no país como o “rei do chocolate” por ser
dono de um dos maiores fabricantes de confeitaria e chocolates na Europa.
Também garantiu que
irá continuar o caminho europeu do país e assinar o acordo com a União
Europeia, que desagrada a Moscovo.
Depois de na véspera,
durante as cerimónias do Dia D na Normandia, Poroshenko se ter encontrado com o
Presidente russo, Vladimir Putin, surgem os primeiros sinais de uma vontade de
entendimento. O Presidente russo disse ter gostado da abordagem de Poroshenko
mas querer esperar para ver o que este fará (a Rússia não reconhece a sua
eleição). O líder ucraniano comentou que “o diálogo começou”.
Poroshenko também
quis ter um tom conciliatório. “Não quero guerra, não quero vingança, apesar do
grande sacrifício do povo ucraniano. Quero paz e quero que a paz aconteça”,
declarou. “Os cidadãos da Ucrânia nunca vão gozar a beleza da paz a não ser que
resolvamos as nossas relações com a Rússia,” disse.
Mas há linhas
vermelhas: “A Rússia ocupou a Crimeia que era, e continua a ser, solo
ucraniano”, disse, recebendo aplausos no Parlamento, onde se encontravam alguns
governantes estrangeiros — incluindo o vice-presidente
dos Estados Unidos,
Joe Biden. “Disse-o claramente ao líder russo na Normandia”, acrescentou, referindo-se ao encontro da
véspera com Putin.
“Não pode haver
negociações sobre a Crimeia, nem sobre a escolha europeia, nem sobre o sistema
governamental”, disse Poroshenko. “Todas as outras coisas podem ser negociadas
e discutidas à mesa de negociações. Mas quaisquer tentativas de escravização da
Ucrânia vão encontrar resistência resoluta.”
Apesar de não haver
qualquer perspectiva da Rússia desistir da Crimeia, onde um referendo feito à
pressa e marcado por irregularidades deu uma maioria pela secessão da Ucrânia
e optou por se juntar à Rússia, Putin deu já um sinal visto como positivo:
ordenou, este sábado, que a vigilância das fronteiras entre a Rússia e a
Ucrânia fosse fortalecida para impedir passagens ilegais. Vários líderes
ocidentais, como o Presidente norte-americano, Barack Obama, tinham apelado ao
Presidente russo para impedir o apoio aos separatistas pró-Rússia no Leste da
Ucrânia. Moscovo tem negado apoio aos rebeldes no Leste da Ucrânia, que tem
neste momento locais que são zonas de guerra, mas jornalistas têm encontrado
russos a combater.
O novo Presidente
ucraniano quis deixar uma saída aos combatentes pró-Rússia: “Por favor, baixem
as armas e eu garanto imunidade a todos os que não tiverem as mãos manchadas de
sangue”, disse, falando ainda de um corredor seguro para a passagem de
combatentes russos para a Rússia.
Passando do ucraniano
para a língua russa, prometeu uma visita ao Leste do país. Será “em breve, com
a mensagem da paz e a garantia do uso livre da língua russa". Disse ainda
que a região poderia beneficiar de uma “completa descentralização do poder”,
evocando a possibilidade de eleições regionais antecipadas.
Na região, os
rebeldes não se manifestaram impressionados com esta oferta. “O que eles querem
realmente é um desarmamento unilateral e a nossa rendição. Isso nunca
acontecerá na República Popular de Donetsk”, disse um alto responsável
separatista, Fiodor Berezin, por telefone, à agência Reuters. “Enquanto houver
tropas ucranianas no nosso território, acho que tudo o que Poroshenko quer é a
subjugação. A luta vai continuar”, prometeu.
Noutra cidade do
Leste nas mãos dos insurrectos, Luansk, o líder separatista Valeri Bolotov
rejeitou liminarmente a oferta de Poroshenko. “Os ucranianos fizeram a sua
escolha e têm de viver com ela. No que diz respeito à nossa república, não
temos relações diplomáticas com a Ucrânia.”
O embaixador da
Rússia na Ucrânia, Mikhail Zurabov, classificou o discurso como “uma
prometedora declaração de interesses”, dizendo no entanto que a Ucrânia deveria
terminar a sua operação no Leste, aceitando um cessar-fogo
e deixando entrar
ajuda humanitária. Responsáveis russos e ucranianos deverão encontrar-se hoje para discutir a
crise.
Os confrontos
continuaram durante o dia: o exército bombardeou o bastião rebelde de Slaviansk e a cidade de
Mariupol. O ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Frank-Walter Steinmeier,
aconselhou o Governo Ucraniano a usar com cautela a força militar na região
para não dar mais ímpeto aos separatistas.
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