Andrei
Fedyashin
26 Junho,
17:16
O
descontentamento dos círculos empresariais norte- americanos coin as sanções em
relação à Rússia, decretadas pela administração de Barack Obama, é cada
vez mais visível.
As duas maiores entidades empresariais dos EUA - a Associação Nacional
de Produtores (NAM) e a Câmara do Comércio - divulgaram, em 26 de junho, um
comunicado conjunto nas principais edições dos EUA e da Grã-Bretanha. O seu
conteúdo se resume ao seguinte: as sanções económicas unilaterais contra a Rússia
causarão prejuízos a empresas norte-americanas, favorecendo, ao mesmo tempo, os
seus concorrentes.
A ideia fundamental da declaração é: se o presidente dos EUA tem reclamações
pessoais ou políticas em relação a Vladimir Putin, o mundo de negócios não tem
nada a ver com isso. Uma outra ideia expressa no comunicado não é menos importante: em virtude das sanções,
as empresas dos EUA irão perder os contatos de negócios existentes, podendo tal
lacuna ser preenchida por empresas europeias. “Seremos afastados do
mercado não por um ou dois anos, mas sim por décadas”, frisa a nota.
Em outras palavras, os empresários dos EUA estão cientes de que seus
colegas da Europa já não pretendem introduzir o terceiro pacote de sanções
contra a Rússia. Eles estão à espera que Washington declare sanções económicas unilaterais.
As conversas travadas por europeus sobre sanções não passam de um blefe
para acalmar o presidente Obama. Os tempos da Guerra Fria estão no passado e a
Europa entende que as sanções irão sair pela culatra, podendo causar danos às
relações sólidas com a Rússia, sustenta o analista Yuri Solozobov:
“As sanções não têm
nem terão sentido desde que não sejam aplicadas no sector energético. Todavia,
tais medidas causarão prejuízos à Europa no valor de um trilião de euros. Os
EUA irão ganhar com isso por desejarem criar uma zona de comércio livre com um
parceiro fraco. A UE compreende que, desta forma, os EUA querem pô-la de joelhos”.
Ora, a declaração vem ainda
cristalizando os sérios receios do mundo de negócios dos EUA quanto à
política da administração na vertente ucraniana.
Desde a primavera, os
empresários temem que, no domínio das relações com a Ucrânia, a Casa Branca
esteja a praticar uma espécie de “vendeta”. As ameaças constantes de introduzir
novas sanções contra Moscovo parecem ter prejudicado o próprio presidente Obama
que, perdendo para Putin na esfera de política externa, procura pretextos de
“vingança política”. Veja-se suas falhas no Oriente Médio, na
Ucrânia e na China. O fracasso dos planos de “amputar” a Ucrânia e a Crimeia,
criar ali uma rede de bases
militares da OTAN e a dura reação de Moscovo acabaram por
transtornar o presidente Obama no sentido político e, pelo visto, psicológico.
O problema é que a
administração de Obama não evoluiu, ficando no século XX As autoridades dos EUA
não compreendem coisas elementares: o mundo mudou e todos querem edificar um
sistema de segurança internacional através de coalizões e não a partir de um
alicerce unipolar, como o pretendem fazer Washington, salienta o politólogo
Dmitrí Abzalov. Em sua ótica, é nisso que reside o maior problema
para Barack Obama, que está totalmente desnorteado:
“Até que ponto ele
continuará sendo refém da sua política externa rígida, até que ponto poderá
manter a autonomia, até que ponto poderá sacrificar a sua boa imagem para
entrar na história como um pacificador ou um presidente amante da paz - são
estes os maiores desafios que Obama está enfrentando agora. Seja o que for, eu
não descarto a possibilidade de normalização das relações
russo-norte-americanas. Tudo depende de sagacidade do presidente dos EUA. Para
já, a sua política tem sido fruto da miopia política dos seus conselheiros que
não conseguem ver dois passos à frente”.
O comunicado foi
redigido pelo presidente da Associação Nacional de Produtores (NAM), Jay
Timmons, e o chefe da Câmara do Comércio, Thomas Donohue.
Para compreender
melhor o atual e eventual efeito da
declaração conjunta, convém recordar quem são estas duas entidades influentes.
A NAM é a organização
empresarial mais antiga e mais poderosa, integrando hoje mais de 14 mil
empresas e corporações industriais de grande porte, responsáveis pela produção
de artigos no valor superior a 1,8 triliões de dólares.
A Câmara do Comércio
reúne 3 milhões de empresas que atuam em todos os setores
económicos dos EUA.
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