CHINA Riscos do crédito
mal-parado no maior país do mundo país têm gerado algum alarme foto reuters
ENTREVISTA
A imprensa internacional fez eco de um risco elevado
gerado pelo crédito mal parado na China. Para muitos analistas é uma enorme
“bomba ao retardador” prestes a rebentar. Michael Pettis, professor de Finanças
na Universidade de Pequim, e um dos bloguistas mais influentes sobre a situação
na China, desdramatiza em entrevista exclusiva ao Expresso
TEXTO JORGE NASCIMENTO RODRIGUES
O principal problema da China não é o sector bancário
‘sombra’” e o risco de uma crise bancária na segunda maior economia do mundo
“não é iminente”, diz Michael Pettis, professor norte-americano
na Universidade de
Pequim e autor do blogue de referência “China Financial Markets”.
Pettis, em entrevista exclusiva ao Expresso, responde aos
temores ultimamente difundidos sobre o alto risco do crédito mal parado na China
e do sistema bancário ‘sombra’ que tem servido para “contornar” as regras no
sistema bancário formal. O professor de Finanças da Escola de Gestão Guanghua
acha que o governo de Pequim ainda dispõe de mais “dois a três anos” para
controlar o problema do crédito mal parado e do nível elevado do crédito.
Os temores foram ampliados com a publicação, ontem, no
jornal “Financial Times” (FT), de declarações do responsável da Fidelity em Hong Kong para o fundo de investimento
China Spécial Situations alertando que o nível
de crédito mal parado é muito superior ao referido pelas fontes oficiais, que
apontam para 1% dos ativos na maioria dos bancos chineses. Os próximos 12 meses
“serão muito interessantes” para acompanhar 0 assunto, disse Dale Nicholls ao
FT, repetindo o que muitos gestores de fundos têm avisado.
Por outro lado, a revista “Euromoney” referia este mês
que os riscos de crise bancária na China triplicaram em pouco mais de um ano,
devido a uma descida na capitalização do sector em bolsa e ao disparo da
dívida, assinalando, também, o risco sistémico colocado pelo sector “sombra”. O
nível de risco subiu de 153 mil milhões de euros em fevereiro de 2013 para 459,9 mil milhões em maio, segundo o índice de risco sistémico
do Volatility Institute da Stern School of Business da
Universidade de Nova Iorque e do Center for Risk Management, de Lausana, na
Suíça. Esse nível mede o montante da injeção que o governo chinês terá de
realizar no caso de crise financeiro do sector; em Maio equivalia a 7,8% do
PIB. É o mais elevado do mundo em termos absolutos (na injeção em euros),
estando à frente do Japão e dos Estados Unidos, ainda que, em termos relativos
(rácio face ao PIB), esteja muito abaixo do requerido para a Suíça, França,
Reino Unido e Japão.
O risco de crise
bancária na China é iminente?
Depende do que se entende por “risco”. É verdade que o
crédito mal parado continua a acumular-se no sistema bancário, pois o crédito
bancário continua a subir muito rapidamente. Mas a probabilidade de se
desencadear uma crise financeira é baixa.
É baixa?
A maioria dos chineses acredita que os depósitos
bancários - e mesmo o dinheiro investido nos “produtos de gestão de fortunas” -
estão garantidos pelo governo e que essa garantia é credível.
O alarme difundido
nos media internacionais é excessivo?
Não penso que o risco seja iminente. Pequim tem mais três
ou quatro anos para controlar o problema.
O problema é o tão
falado sistema bancário “sombra” que tem servido como intermediário para a
economia real e para muitas operações financeiras realizadas contornando as
regras do sistema bancário formal?
Não acho que seja o problema principal.
Porquê?
Apesar de haver fraude e esquemas Ponzi campeando no
sistema “sombra”, no conjunto, numa avaliação global, eu diria que,
provavelmente, o sistema “sombra” não faz pior, e que até pode estar a fazer
melhor à economia, canalizando dinheiro para empresas e negócios na China mais
eficientes e com menos desperdício - nomeadamente para as pequenas e médias
empresas, que, no seu conjunto, economicamente, são mais eficientes e
produtivas.
Onde está, então, o
problema?
Está no modelo de crescimento económico da China que está
excessivamente dependente de um crescimento da dívida ainda mais rápido, seja operado
pelo sistema bancário formal, seja pelo sistema “sombra”. Este modelo é
claramente insustentável.
Por que razão surge,
então, toda esta atenção dada ao sistema “sombra”?
O sistema “sombra” cresceu rapidamente devido às
regulamentações que limitam o crescimento do crédito normal através do sistema
bancário formal, em virtude da obrigação de determinados rácios dos empréstimos
face aos depósitos. Por isso, muita da expansão do crédito ocorre fora do
sistema formal, ainda que a generalidade das pessoas acredite que os bancos
formais têm efetivamente garantidas as
potenciais perdas no sistema “sombra”.
Que deveria fazer o
governo chinês?
Em vez de tentar resolver o problema dos bancos “sombra”,
eu acho que Pequim tem de alterar a dependência da China em cada vez maiores
pilhas de dívida que está a gerar inclusive um declínio num crescimento não
saudável.
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