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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

"Inverosímil, mas nada é impossível", diz antigo diretor da PJ Militar

Assalto em Tancos
Manuel Carlos Freire  25 Setembro 2018  21:17
Militares incrédulos com a acusação e detenção do diretor da PJ Militar e na expectativa sobre os indícios recolhidos pelo Ministério Público.

A detenção do diretor da PJ Militar (PJM) deixou a generalidade dos militares em choque, surpreendidos com o caso e incrédulos perante a fundamentação invocada pelo Ministério Público (MP).

"Não acredito que um diretor [da PJM] o faça", afirmou ao DN o major-general Rodolfo Begonha, ele próprio ex-diretor daquela polícia na dependência do ministro da Defesa - com quem a procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, esteve esta manhã - e, em termos funcionais, do MP.

"É inverosímil, mas nada é impossível", afirmou Rodolfo Begonha, já que os investigadores colocam "as hipóteses todas" para esclarecer um caso aparentemente iniciado com uma chamada anónima - de várias que antes já tinham sido feitas - a alertar a PJM para ir a um certo local na zona da Chamusca.

Segundo várias fontes, investigadores da PJM e da GNR de Loulé que estavam na região a investigar outro caso relacionado também com tráfico de armas - oriundas de locais onde estavam ou tinham estado destacadas unidades militares portuguesas - foram, por isso, chamados ao local.

Para o general Rodolfo Begonha, a possibilidade de a PJM - leia-se Luís Vieira, atual diretor desde 2012 - negociar ou simular a entrega do material furtado é algo que "não está na cabeça de nenhum militar" fazer, nomeadamente àquele nível.

Mas dando como certo que o MP tem dados para fundamentar os pedidos de detenção do diretor e dos restantes três investigadores da PJM (bem como os da GNR de Loulé), Rodolfo Begonha manifestou reservas quanto à sua interpretação.

O general invocou o teor da acusação feita aos instrutores dos Comandos envolvidos na morte de dois recrutas em 2016 e que, na sua perspetiva, traduziu um "desconhecimento completo" sobre como funciona a instituição militar.

O MP "tem elementos concerteza", mas também "tem que ter provas", concluiu o antigo diretor da PJM.

Militares sem jeito para ser polícias?
Outras fontes, sob anonimato por não estarem autorizadas a falar, manifestaram ao DN a mesma estupefação com os acontecimentos desta terça-feira - e várias interrogaram-se sobre alguma ligação com eventuais tentativas de extinguir a PJM (desde logo no âmbito da reforma 2020, preparada e aprovada pelo governo anterior mas sem sucesso nesse ponto).

Para uma alta patente, "passou-se uma de duas coisas: ou alguém quer acabar com a PJM" - leia-se a PJ, que alegadamente tenta há anos ter autoridade para entrar nas unidades militares e investigar crimes ali ocorridos - "ou [os investigadores militares] puseram-se a jeito."

"Baseado em quê? Não conseguimos perceber" os fundamentos das detenções, acrescentou um oficial superior.

Para outra alta patente, a ser verdade a acusação do MP, "é de uma infantilidade brutal" alguém da PJM fazer aquilo e revelador de que "os militares não têm preparação para serem polícias".

O porquê parece difícil de perceber: a ser verdade que o coronel Luís Vieira participou numa simulação para entregar o material de guerra, fê-lo por razões corporativas? Para resolver um caso em investigação pela PJ? Para proteger alguém direta ou indiretamente ligado à instituição militar? Para mitigar o escândalo em que caiu o Exército, ao garantir que o material não ia parar a mãos criminosas?

Um terceiro oficial general considerou a própria existência da PJM como mais um exemplo de que há militares a querer ser e fazer coisas distintas das que competem às Forças Armadas.

Lembrando que a Justiça é um braço civil do Estado, a mesma fonte perguntou: "As Finanças têm uma polícia própria" para investigar crimes dentro das respetivas repartições?

O facto é que a PJM existe e na dependência do poder político, pelo que "não é militar" - estatuto que só pode ter o que depende das chefias militares, argumentou Rodolfo Begonha.

Mas, no contexto da tensão entre a PJ e a PJM que terá sido acentuada com a proibição do Exército em deixar os investigadores civis entrarem em Santa Margarida horas depois da recolha do material furtado, algumas fontes continuam a admitir essa realidade como explicação possível para o ocorrido esta terça-feira.

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