Assalto em Tancos
Valentina Marcelino 25 Setembro 2018 13:21
Um dos detidos na operação desta manhã será o principal suspeito do assalto aos paióis de Tancos.
O diretor da Judiciária Militar, militares da PJM
No seu comunicado sobre a operação, a Procuradoria-Geral da República (PGR) refere que, além dos militares da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR, foi também "detido um outro suspeito".
Na lista de crimes em causa que a PGR apresenta está também "detenção de arma proibida e tráfico de armas".
Fonte ligada à investigação não quis comentar por "ainda estarem em curso várias diligências".
Esta manhã o Ministério Público (MP) e a Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da PJ fizeram buscas na sede da Polícia Judiciária Militar (PJM) - localizada no edifício do ministério da Defesa, em Lisboa - onde foi detido o diretor, Coronel Luís Vieira., em Lisboa e no Porto.
Foram também realizadas buscas em vários locais nas zonas da Grande Lisboa, Algarve, Porto e Santarém.
O comandante da GNR de Loulé está também entre os detidos.
Há mandados de detenção para cerca de meia dezena de militares, incluindo oficiais.
A operação está relacionada com o furto do material militar em Tancos e visa militares da PJM e da GNR suspeitos de terem forjado a "recuperação" das armas, em conivência com o próprio autor do roubo.
Segundo a PGR os suspeitos estão indiciados por "factos suscetíveis de integrarem crimes de associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, recetação, detenção de arma proibida e tráfico de armas".
O material foi parcialmente recuperado a 18 de outubro de 2017, 113 dias depois de ter sido detetado o seu desaparecimento dos paióis de Tancos, a 28 de junho.
A PJM contou que tinha recebido uma "chamada na anónima" a dar conta da presença dos caixotes com o material perto da Chamusca, mas os inspetores da UNCT, na altura liderados por Luís Neves, o atual diretor nacional da PJ, notaram algumas incongruências na narrativa.
Um novo inquérito foi aberto e vários militares foram colocados sob investigação.
Em comunicado a PJM anunciou que "na prossecução das suas diligências de investigação no âmbito do combate ao tráfico e comércio ilícito de material de guerra, recuperou (...) na região da Chamusca, com a colaboração do núcleo de investigação criminal da Guarda Nacional Republicana (GNR) de Loulé, o material de guerra furtado dos Paióis Nacionais de Tancos".
O texto levantou suspeitas.
Primeiro pelas "diligências de investigação" quando o inquérito ao furto estava sob coordenação da PJ que desconhecia; depois pelo envolvimento da GNR de Loulé, bem longe do local em causa.
Nada disto fazia sentido para a UNCT, que não deu o caso por "encerrado" para surpresa da PJM e do próprio Chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, que, em janeiro deste ano, tinha declarado "encerrado" o cado.
Nesta altura já corria a nova investigação.
Incómodo na PJM
Desde que o MP colocou a PJ à frente da investigação, que a PJM foi dando sinais que não se tinha conformado com a decisão.
No entender dos militares este roubou tratava-se de um crime "estritamente militar" e a investigação era da sua competência.
Mas o histórico dos fracassos das suas investigações noutros roubos de armas (Carregueira e Alfeite, por exemplo) e a quantidade de material em causa, não deixou à Procuradora-Geral da República grande margem de manobra.
A 4 de julho de 2017 Joana Marques Vidal emitiu um comunicado a dar conta que podiam estar em causa crimes de associação criminosa e terrorismo, tráfico internacional de armas e que a investigação seria conduzida pela PJ, com a polícia militar a dar "total colaboração institucional".
Nesse mesmo dia, Marcelo Rebelo de Sousa deslocou-se a Tancos e encontrou-se com um conjunto alargado de altos responsáveis políticos e militares: o chefe do Estado-Maior General Forças Armadas (CEMGFA), o chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), o ministro da Defesa, o secretário de Estado da Defesa, o diretor da PJM, o inspetor responsável pela investigação da PJM e um elemento do laboratório científico daquela polícia.
Segundo relatou na altura o Observador, o chefe de Estado ouviu o diretor da PJM, coronel, Luís Vieira, a fazer um resumo dos últimos dias e dos obstáculos colocados pela PJ à sua investigação.
Foi aí também que terá revelado uma informação que surpreendeu muitos dos presentes: o MP tinha sido avisado no início do ano de que estaria em preparação um assalto a uma instalação militar da zona centro (onde se localiza Tancos) e o CEMGFA não tinha sido informado.
A revista Sábado publicaria no dia seguinte toda a história.
Na verdade, o MP terá tentado investigar este alerta, mas as diligências, entre as quais colocar sob escuta alguns suspeitos, foram inviabilizadas por sucessivos juízes.
No entanto, ao trazer a questão a público, Luís Vieira comprometeu a investigação do MP e da PJ, pois alertou os suspeitos sobre a vigilância que estavam já a ser sujeitos.
A relação entre as duas polícias foi ficando cada vez mais tensa, mas quando a PJM anuncia A "recuperação" do material e o transporta para Santa Margarida, sem sequer informar o MP nem a UNCT, gelou mesmo.
Ao ponto da desconfiança da PJ resultar numa investigação à própria Judiciária Militar.
Sem comentários:
Enviar um comentário