Um membro das
milícias separatistas pró-russa em patrulha numa rua de Kramatorsk
ALEXANDRE MARTINS
21/05/2014 - 13:35
Numa nova declaração pública, o homem mais rico da
Ucrânia chama "impostores" aos líderes da autoproclamada
República Popular de Donetsk e diz acreditar que eles serão "corridos muito em breve".
O homem mais rico da Ucrânia, Rinat Akhmetov, lançou
nesta quarta-feira um novo ataque contra os separatistas pró-russos que lideram
a autoproclamada República Popular de Donetsk, no Leste do país, acusando-os de serem uns
"impostores" que estão a "aterrorizar" toda a região.
"Quem são eles? O que são estas pessoas? De onde é
que estes 'génios' saíram? Onde estavam eles ontem?, questionou o oligarca numa
nova comunicação através do seu canal de televisão, a Ucrânia TV.
"É minha
convicção que a República Popular de Donetsk está a enganar o povo do
Donbass", disse Akhmetov, referindo-se à região que integra as
províncias de Donetsk e Lugansk, e onde as milícias separatistas pró-russas
ocupam vários edifícios administrativos e governamentais desde o início de
Abril.
Depois de ter
mobilizado os trabalhadores das
suas fábricas para patrulharem e limparem as ruas da cidade de Mariupol, na
semana passada, o oligarca apelou a
todos os seus cerca de 300.000 assalariados - mas também à generalidade dos
habitantes do Leste do país - que se manifestem contra a violência, em especial
contra "a auto-intitulada República Popular de Donetsk".
"Em
primeiro lugar, quero
expressar a minha mais profunda gratidão a todas as pessoas que participaram na
acção Voz do Donbass", disse Rinat Akhmetov
nesta quarta-feira, numa referência aos protestos de terça-feira, cuja expressão tem sido
ridicularizada na conta oficial do Twitter da República Popular de Donetsk - um
vídeo partilhado na terça-feira mostra o estádio do clube de futebol Shaktar Donetsk,
presidido por Akhmetov, com poucas pessoas nas bancadas para ouvirem as
palavras do oligarca.
Mas nas redes sociais
foram também partilhados vídeos
de automobilistas a buzinarem nas ruas de Donetsk, em resposta
ao apelo do multimilionário.
"Sei que muitos
mais queriam participar, mas foram intimidados com pistolas e metralhadoras.
Foram destruídos carros... Em resumo, eles agiram como selvagens. Mas estou
profundamente convencido de que não é possível alimentar as pessoas com armas,
nem é possível construir uma economia forte sem bons postos de trabalho e
salários”, afirmou nesta quarta-feira Rinat Akhmetov.
Não são ainda claros todos os motivos que levaram o
oligarca a interferir directamente na crise, mas não há dúvidas de que a falta
de reconhecimento internacional da República Popular de Donetsk iria deixar o
seu império em risco - a questão não é tanto se Akhmetov apoia
incondicionalmente as autoridades de Kiev, mas os danos que os seus negócios
sofreriam se o resto do mundo deixasse de importar os seus produtos devido à
previsível aprovação de sanções internacionais.
Também por isso, o oligarca aposta no reforço da sua
imagem junto da população, e já não cala as críticas violentas aos separatistas
pró-russos.
"Eu tenho servido e vou continuar a servir o povo do
Donbass. O povo do Donbass está no meu coração para sempre! Mas essa cambada de
impostores que está a aterrorizar o Donbass... Estou convicto de que serão
corridos daqui para fora muito em breve", afirmou.
Esta é a terceira declaração pública do oligarca
ucraniano na última semana, num sinal de envolvimento directo na crise do país
que tentara evitar desde as primeiras manifestações contra o Presidente Viktor
Ianukovich, em Novembro do ano passado.
Com o desenrolar da situação no terreno, Akhmetov tem-se chegado cada vez mais
às posições dos manifestantes que ajudaram a derrubar o antigo chefe de Estado
através de violentas manifestações na Praça da Independência, em Kiev, apesar
de continuar a ser malvisto entre o chamado movimento Euromaidan por ter sido
apoiante e financiador do Partido das Regiões de Viktor Ianukovich, e por não
ter assumido uma posição clara desde os primeiros momentos da mais recente
revolução na Ucrânia.
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