Trabalhadores metalúrgicos em Mariupol de empresas
de Akhmetov, manifestaram-se pela paz
ALEXANDRE MARTINS
20/05/2014 - 14:31
Depois de meses de espera, o multimilionário
Rinat Akhmetov parece estar decidido a lutar contra as milícias pró-russas no
Leste do país.
Se ainda havia dúvidas sobre o
posicionamento do homem mais rico da Ucrânia no conflito que ameaça levar o
país para a guerra civil, elas foras esclarecidas nesta terça-feira. O oligarca
Rinat Akhmetov pediu aos seus 300.000 trabalhadores que organizem protestos
contra os responsáveis pelo “derramamento de sangue”, a “pilhagem” e o
“banditismo”, incluindo “a auto-intitulada República Popular de Donetsk”.
Em resposta, o autoproclamado
líder dos separatistas pró-russos, Denis Pushilin, anunciou que vai
nacionalizar as empresas de Akhmetov, acusando “os oligarcas [da região] do
Donbass” de se terem recusado a pagar impostos à entidade criada depois do
referendo de 11 de Maio, e que não foi reconhecida por nenhum país - os líderes
russos evitaram usar a expressão "reconhecimento" nas reacções aos
resultados da consulta popular e têm frisado que não receberam qualquer pedido
oficial para a integração da autoproclamada república na Rússia.
Num
anúncio perante os jornalistas, Pushilin disse que o conselho supremo da República
Popular de Donetsk (RPD) iniciou “o processo de nacionalizações de activos no
país”, incluindo o império de Akhmetov nas regiões de Donetsk e Lugansk. O
líder dos separatistas acusou ainda Rinat Akhmetov de ameaçar os seus
trabalhadores com o despedimento se não participassem nas manifestações.
"Devido à relutância dos
oligarcas regionais em pagar impostos à RPD, decidimos iniciar o processo de
nacionalizações", lê-se
na conta oficial no Twitter da República Popular de Donetsk.
Na mesma rede social, a RPD apela
à união dos seus apoiantes,
afirmando que “os
oligarcas do Donbass declararam guerra” contra os separatistas, numa referência
a Rinat Akhmetov.
Para além do apelo do oligarca
ucraniano aos aos trabalhadores da gigante Metinvest, Rinat Akhmetov pediu
ytambém “a todos os automobilistas e a todos os patriotas da região que se
juntem aos protestos”.
Num vídeo publicado
nesta terça-feira no YouTube, e partilhado no Twitter pelo movimento Euromaidan (um dos
protagonistas das manifestações que levaram à queda do Presidente Viktor
Ianukovich), ouve-se um coro de buzinas
nas ruas da cidade de Donetsk.
Rinat Akhmetov falou ao país através da sua estação de televisão
A importância da economia
O homem mais rico da Ucrânia
enterrou definitivamente as suas indecisões em relação ao conflito no país, que
ainda lhe valem o estatuto de persona non grata da Praça da Independência, em
Kiev. Depois de anos ao lado do Presidente Viktor Ianukovich, como apoiante e
financiador do seu Partido das Regiões, Rinat Akhmetov foi esperando para ver
de que forma o clima de guerra civil influenciava os seus negócios, em
particular a sua Metinvest, uma das cinco maiores fabricantes de aço do mundo.
Depois de na semana passada ter
mobilizado vários milhares de trabalhadores para patrulharem, desarmados, as
ruas da cidade de Mariupol, na companhia dos agentes da polícia fiel ao Governo
interno de Kiev, o oligarca ucraniano dirigiu-se ao país na noite de
segunda-feira, através da sua estação de televisão Ucrânia TV.
“Não permitirei que o Donbass
seja destruído. Nasci aqui e vivo aqui. É por isso que apelo à união de todos
na nossa luta: por um Donbass sem armas! Por um Donbass sem máscaras! Por um Donbass
com um céu pacífico”, declarou Rinat
Akhmetov.
Sem paz nas ruas das várias
cidades ocupadas pelos separatistas pró-russos desde o início de Abril, é muito
mais difícil garantir o futuro das suas empresas e, em consequência, a
manutenção de centenas de milhares de postos de trabalho.
Na semana passada, quando os
trabalhadores da Metinvest conseguiram desalojar os separatistas pró-russos de
Mariupol, o director-geral de uma das empresas de Akhmetov, Iuri Zinchenko,
disse à agência Reuters que “ninguém quer que a região de Donetsk se transforme
numa espécie de zona cinzenta, sem reconhecimento internacional”, numa alusão
ao facto de o império do aço do oligarca ucraniano depender das exportações.
Na
mais recente comunicação ao país. Rinat Akhmetov (também presidente de um dos mais
populares e bem sucedidos clubes de futebol da Ucrânia, o
Shaktar Donetsk) lembrou a importância
da paz para a economia da região Leste.
“As cidades são palco de
banditismo e de pilhagens.
Há pessoas a andar por aí com
armas e lança- granadas. Isto representa uma vida pacífica? Uma economia forte?
Bons empregos e salários? Não!”, afirmou o multimilionário.
Luta dos separatistas é “contra a região”
A causa directa da comunicação de
Akhmetov foi a ameaça por parte de milícias separatistas pró-russas contra
“pessoas pacíficas”, que tentaram manifestar-se “numa acção pacífica” em
Mariupol, na segunda-feira.
“Contactei
imediatamente os responsáveis das nossas fábricas e pedi-lhes que suspendessem
a participação no protesto pacífico. Porque a vida humana é o maior valor, e eu
nunca permitirei o derramamento de sangue. Pedi que suspendessem a
manifestação; que suspendessem, e não
que parassem. Porque se pararmos, o derramamento de sangue vai continuar no
Donbass”, disse Akhmetov.
Em seguida, lançou um ataque
directo aos líderes dos separatistas pró-russos no Leste da Ucrânia: “Não nos
deixaremos amedrontar. Não teremos medo de ninguém, incluindo da
auto-proclamada República Popular de Donetsk. Digam-me, por favor, se alguém da
região de Donbass conhece sequer um representante desta República Popular de
Donetsk. O que é que eles fizeram pela nossa região, que postos de trabalho
criaram? Andar pelas cidades do Donbass com armas nas mãos defende os direitos
dos habitantes de Donetsk frente ao Governo central? A pilhagem nas cidades e o
sequestro de cidadãos pacíficos é uma luta pela felicidade da nossa região?
Não, não é! É uma luta contra os cidadãos da nossa região. É uma luta contra o
Donbass. É o genocídio do Donbass!”, acusou o oligarca ucraniano.
Rinat Akhmetov quer as pessoas
nas ruas e as sirenes das fábricas a tocar até que a paz regresse à região, num
apelo feito a apenas cinco dias das eleições presidenciais na Ucrânia, que
serão o grande teste à transição política no país.
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