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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Caso Bes n° 24: O Dr. Carlos Tavares acusa Dr. Ricardo Salgado, BdP e Ministério Público

O Economista Português
Um blog de Economia Política e de Política Económica
Posted on Julho 25. 2014
 O Dr. Carlos Tavares é o primeiro cidadão, à esquerda, acima

O Dr. Carlos Tavares, presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), ouvido ontem numa comissão especializada da Assembleia da República, explicou como ocorreu o caso BES: «Iludindo». Trocando por miúdos: o BES iludiu-o. Isto é: o regulador queixa-se que o regulado não lhe narrou as suas faltas reais ou presumidas com a rapidez, simplicidade e exaustividades que a Inquisição esperava dos seus inquiridos. Ou ainda de outro modo: o inquirido é culpado das falhas do inquiridor e essa sua culpa é adicionalmente agravante da culpa originária e causa de isenção da sempre hipotética culpa do regulador. Batendo asperamente com a sua mão no peito dos outros, o Dr. Tavares não teve por oportuno tentar demonstrar que a sua ilusão era legítima, que não tinha meios para dela nos proteger, etc; queixou-se simplesmente Carlos.

O queixume é tão absurdo que qualquer pessoa de médio bom senso suporia que o presidente da CNVM o apresentara como fundamento irrecusável da sua demissão: «fui incapaz de evitar a ilusão». «Engano de alma ledo e cego».

Exarado o queixume para deputados, ata e comunicação social, o sr. presidente da reguladora da bolsa de valores passou a atacar o Banco de Portugal (BdP), por faltar a fiscalizações financeiras avulsas (embora mais tarde tenha sido anunciada uma auditoria coniunta da CMVM e do BdP ao BES), a narrar que tinha denunciado numerosos crimes ao Ministério Público que, até ontem nada tinha concretizado. E a agravar as acusações ao BES/Dr. Ricardo Salgado - certamente por desconhecer que a comunicação social anunciara logo de manhã a detenção do dito Dr. R. Salgado e por isso não recear ser acusado de, na sua qualidade de presidente de uma entidade reguladora, açular a multidão contra um presumido inocente e ele próprio violar a presunção de inocência do dito.

Nada de surpreendente: o Dr. Tavares revelou ontem que a sua conceção da justiça coincide com a do Bloco de Esquerda: o deputado bloquista Pedro Filipe Soares disse-lhe haver a ideia que a justiça não é igual para ricos e pobres. «Às vezes tenho essa dúvida, também», tranquilizou-o o Dr. Tavares. Será só a dúvida do Dr. Tavares ou o PSD partilha-la-á ? Essa dúvida resultará da introspeção do ilustre regulador ou terá algum fundamento objetivo, que ficou por explicar ou que a comunicação social julgou não valer a pena relatar? A haver objetividade, uma explicitação desses fundamentos será por certo útil em termos de políticas públicas.


Jornal de Negócios em linha hoje: instantâneo do suspeito

Ao que é conhecido da opinião pública, os reguladores (queixoso Tavares incluído) e a Justiça apenas agiram depois de o Dr. Ricardo Salgado ter abandonado o cargo de presidente do BES e de a comunicação social ter procedido a numerosas investigações e publicações típicas da investigação criminal. O dia de ontem mostrou que para nosso mal continuamos um país com instituições coxas: ao contrário do título acima reproduzido, até ontem nem a justiça tinha atuado nem as entidades reguladoras da finança regularam fosse o que fosse. Como dizia o chófer de táxi d’ O Economista Português: «regalaram-se talvez, regularem é que não». O caso BES foi descoberto pelo mercado, o superdeus de uma multidão semi anónima de cronistas financeiros - que dele se esquecem por razões desconhecidas, em certas e selecionadas ocasiões.


O Economista Português nunca considerou racionalmente possível uma regulação dos mercados financeiros - e por isso não criticará as falhas dela. Limita-se a criticar os candidatos a Torquemadas que respondem à crise económica com a perseguição violenta dos ricos. E pede a todos o favor de se lembrarem da frase de Goya: «o sonho da razão engendra monstros».

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