O Economista Português
Um blog de Economia Política e de Política Económica
Posted on Julho 25. 2014
O Dr. Carlos Tavares é o primeiro cidadão, à
esquerda,
acima
O Dr. Carlos Tavares, presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários
(CMVM), ouvido ontem numa comissão especializada da Assembleia da República, explicou
como ocorreu o caso BES: «Iludindo». Trocando por miúdos: o BES iludiu-o. Isto é: o regulador queixa-se que o regulado não lhe narrou as suas faltas reais ou
presumidas com a rapidez, simplicidade e exaustividades que a Inquisição
esperava dos seus inquiridos. Ou ainda de outro modo: o inquirido é culpado das
falhas do inquiridor e essa sua culpa é adicionalmente agravante da culpa
originária e causa de isenção da sempre hipotética culpa do regulador. Batendo
asperamente com a sua mão no peito dos outros, o Dr. Tavares não teve por
oportuno tentar demonstrar que a sua ilusão era legítima, que não tinha meios para dela nos proteger, etc; queixou-se simplesmente Carlos.
O queixume é tão
absurdo que qualquer pessoa de médio bom senso suporia que o presidente da CNVM
o apresentara como fundamento irrecusável da sua demissão: «fui incapaz de
evitar a ilusão». «Engano de alma ledo e cego».
Exarado o queixume
para deputados, ata e comunicação social, o sr. presidente da reguladora da bolsa de valores passou a
atacar o Banco de Portugal (BdP), por faltar a fiscalizações financeiras
avulsas (embora mais tarde tenha sido anunciada uma auditoria coniunta da CMVM e do BdP ao BES), a narrar que tinha denunciado
numerosos crimes ao Ministério Público que, até ontem nada tinha concretizado.
E a agravar as acusações ao BES/Dr. Ricardo Salgado - certamente por
desconhecer que a comunicação social anunciara logo de manhã a detenção do dito
Dr. R. Salgado e por isso não recear ser
acusado de, na sua qualidade de presidente de uma entidade reguladora, açular a
multidão contra um presumido inocente e ele próprio violar a presunção de
inocência do dito.
Nada de
surpreendente: o Dr. Tavares revelou ontem que a sua
conceção da justiça coincide com a do Bloco de Esquerda: o
deputado bloquista Pedro Filipe Soares disse-lhe haver a ideia que a justiça não é igual para ricos e
pobres. «Às vezes tenho essa dúvida, também», tranquilizou-o o Dr. Tavares.
Será só a dúvida do Dr. Tavares ou o PSD partilha-la-á ? Essa dúvida resultará da introspeção do ilustre
regulador ou terá algum fundamento objetivo, que ficou por
explicar ou que a comunicação social julgou não valer a pena relatar? A haver objetividade, uma explicitação desses fundamentos será por certo útil
em termos de políticas públicas.
Jornal de Negócios em linha hoje: instantâneo do suspeito
Ao que é conhecido da
opinião pública, os reguladores (queixoso Tavares incluído) e a Justiça apenas
agiram depois de o Dr. Ricardo Salgado ter abandonado o cargo de presidente do
BES e de a comunicação social ter procedido a numerosas investigações e publicações
típicas da investigação criminal. O dia de ontem mostrou que para nosso mal continuamos
um país com instituições coxas: ao contrário do título acima
reproduzido, até ontem nem a justiça tinha atuado nem as entidades reguladoras da finança regularam fosse o
que fosse. Como dizia o chófer de táxi d’ O
Economista Português: «regalaram-se
talvez, regularem é que não». O caso BES foi descoberto pelo
mercado, o superdeus de uma multidão semi anónima de cronistas
financeiros - que dele se esquecem por razões desconhecidas, em certas e selecionadas ocasiões.
O
Economista Português nunca considerou racionalmente
possível uma regulação dos mercados financeiros - e por isso não criticará as falhas dela. Limita-se a
criticar os candidatos a Torquemadas que respondem à crise económica com a
perseguição violenta dos ricos. E pede a todos o favor de se lembrarem da frase de Goya:
«o sonho da razão engendra monstros».
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