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quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O bom, o mau e o vilão

06-08-2014
 O BOM.
Dizem que é uma espécie de banco. É o resultado de uma simples equação matemática. BES – Espírito Santo = Novo Banco. É uma solução engenhosa do ponto de vista político. A principal preocupação era afastar possíveis custos para o contribuinte. Isso foi conseguido com este desenho. O Estado participa mas não entra. Fica à porta a servir de porteiro até chegar o verdadeiro capital.

Para os clientes a solução também é boa. O seu banco de sempre continua o mesmo, com os mesmos rostos, as mesmas pessoas. Muda o nome e sai tudo o que podia fazer mal. A confiança perdida pode agora ser aos poucos restaurada. O importante é garantir que o banco volta à sua situação normal. Nestas crises pensa-se pouco nos colaboradores. Os que todos os dias têm de enfrentar as dúvidas, receios e angústias dos clientes, sem eles próprios saberem como vai ser o futuro. Restabelecer a segurança junto destes também é obrigatório. Em todos os aspetos o Novo Banco é mesmo mais um banco bom do que banco novo.
  
O MAU

Chamar ao BES um bad bank só pode ser um elogio. O que sobra está mais perto de terrível do que do mau. Lá dentro fica tudo o que estava ligado à família Espírito Santo, uma montanha de dívidas quase irrecuperáveis. Vai ser preciso esperar pelos processos de falência das empresas do Grupo Espírito Santo para perceber no final o montante das perdas. Não é preciso contudo ser vidente para antever que estarão entre o tudo e o quase tudo. A estas teremos ainda de juntar uma previsível montanha de processos. A litigância deverá ser enorme e com razão. E não só contra o BES.

Este desenho não permite que acionistas e investidores possam no futuro recuperar algo dos seus investimentos.
Para estes a solução é pior do que um bail-in que poderia ainda no futuro trazer alguns ganhos. O bad bank é uma espécie de túmulo de centenas de milhares de milhões de euros. A fúria destes irá recair também sobre a supervisão e a regulação.
  

O VILÃO
Ricardo Salgado diz que vai esperar para se pronunciar. De tudo o que possa dizer no futuro importa saber como se destrói um banco, uma família e milhares de milhões de euros. E não só como, mas com quem.
Salgado não é um lobo solitário. No máximo o alfa de uma alcateia que pilhou o dinheiro de clientes do banco durante anos. O Ali babá. Falta saber quem são os 40 ladrões. E mais importante onde está a caverna do tesouro.

É PRECISO HAVER MORALIZAÇÃO NESTE CASO. QUANDO O IMPÉRIO MADOFF SE DESMORONOU FORAM BUSCÁ-LO A CASA ALGEMADO E ESTÁ A CUMPRIR UMA PENA DE PRISÃO INTERMINÁVEL

Por muito esquema de Ponzi que tenha existido, por muitos maus negócios que se tenham feito, destruir tanto dinheiro como o que desapareceu é muito difícil.
É obrigatório saber quem eram os beneficiários, o que ganharam e como se pode ir buscar esse dinheiro de volta.


É preciso haver moralização neste caso. Quando o império Madoff se desmoronou foram buscá-lo a casa algemado e está a cumprir uma pena de prisão interminável. Salgado foi detido por causa de outro tema completamente diferente. E sobre o que se passou no BES estamos à espera de uma auditoria forense… Enquanto os culpados estão a banhos pessoas desesperam por terem perdido tudo. Onde estão, mais uma vez, o Banco de Portugal, a CMVM e o Ministério Público? Estão à espera de quê? Que venham as autoridades do Luxemburgo ou da Suíça fazer o que eles não conseguem?

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