Expresso, 9 de Agosto
de 2014
Texto de PEDRO LIMA
Ricardo Salgado Em declarações
ao Expresso a 20 de julho de 1991
O desmoronamento
aconteceu. Será que foi porque os interesses da família se sobrepuseram aos dos
negócios, como antevia Ricardo Salgado em julho de 1991? O Expresso foi ver o
que disse nos últimos anos o até há um mês homem forte do BES, desde que em
1991 a família Espírito Santo começou a reconstruir o grupo financeiro, que
agora ruiu com a divisão do BES em ‘banco bom’ e ‘banco mau; Desde ensinamentos
de gestão: “o sistema capitalista é amoral, tem de produzir resultados”;
passando por lições de moral: “as pessoas têm de aprender que devem pagar impostos”; e pelas aprendizagens
da crise: “foram os banqueiros que causaram esta falta de confiança no sistema”
há de tudo um pouco.
Aguardam-se novas
declarações, atendendo a que a ultima tomada de posição, na segunda-feira, foi
para dizer que se pronunciará “quando o tempo e o contexto permitirem uma análise objetiva e serena do que
precipitou a queda do valor do BES e a consequente intervenção do Estado”
1991 4 ABRIL Expresso
1991 20 JULHO Expresso
1993 11
NOVEMBRO Expresso
“Temos
relações de muitos e muitos anos com o Crédit Agrícole, que sempre aceitou uma
posição minoritária, subordinada à participação do GES. Estamos na atividade bancária há mais de 100 anos e queremos continuar
muitos mais 100 anos com o controlo do BES. É para isso que estamos a
trabalhar”
2000 22 JANEIRO
Expresso
"O
Grupo Espirito Santo (GES), para se reconstruir criou uma cultura de partilha
da gestão, das decisões e também dos resultados. Hoje. já não é familiar e
apesar de exibir o nome da família, é composto por milhares de acionistas"
2003 1
NOVEMBRO Exame
"A família continua a ser um elemento moderador e
estabilizador; agregando princípios de ética
e de moral”
“Se não houver membros da família com condições para me
substituir, não me escandaliza nada que o meu sucessor seja alguém de fora”
“A minha família direta
faz questão de me
lembrar da sucessão, dizendo que deveria dedicar mais tempo à família”
“A dimensão do grupo BES exige que a sua gestão respeite
todos os stakeholders”
2006 16 DEZEMBRO Expresso
2008 2 FEVEREIRO Expresso
"Jardim Conçalves ficará na história por ter feito do nada um grande banco. Vi coisas de que não gostei,
relatadas pelos media e pelos órgãos
de supervisão.”
"[A fraude que ocorreu na
Société Général (SG), arquitetada por um funcionário, Jérôme Kerviel]
é uma situação perfeitamente anómala. Conheço muito bem a SG e o seu presidente,
que é um banqueiro de 20 valores. A SG é um banco fantástico em termos de
controlo e compliance. Como é
possível que aconteça uma coisa destas sem que o presidente soubesse? Eu não
percebo e fico com medo. Tem a ver com o gigantismo das organizações. As
empresas e os bancos, quanto mais crescem, mais difíceis são de gerir e de
supervisionar. Dada a complexidade das operações bancárias, a regulação terá de se adaptar.”
“O BES tem passado por algumas
experiências interessantes. Por exemplo: a operação Sueter, em Espanha. Fomos
atacados por uma operação que não tínhamos feito e em 48 horas as nossas
equipas estavam em condições de emitir os comprovativos de como não tínhamos
feito as operações de que nos acusavam. Mas não conseguimos evitar aquele espetáculo terrível de ter
televisões á porta das nossas instalações. O efeito negativo foi grande nas
primeiras semanas, mas rapidamente informámos que aquilo só poderia ter sido um
equívoco"
2009
4 JULHO
JORNAL i
"Foram os banqueiros que causaram esta falta de confiança no sistema"
“O BES não só
antecipou a crise como foi o banco que melhor se posicionou. Apesar de não sermos
o maior banco privado fomos o que apresentou o nível de capitalização mais
elevado. Estivemos no mercado internacional, nas emissões de dívida, em todas
as circunstâncias … com ou sem garantia do Estado”
“Não só procuramos
cumprir inteiramente as regras impostas pelos reguladores e supervisores, mas
também as regras morais e éticas que devem presidir à atuação
de um banco."
“As empresas de raiz familiar dão estabilidade às
organizações, não só aos bancos mas a todas as sociedades. Obrigam à
preservação da instituição e dos valores de todos aqueles que trabalham na
organização. Em contrapartida, as maiores crises do sector financeiro foram nos
25 maiores bancos do mundo, dirigidos por executivos de altíssimo gabarito, mas
que não deixaram de impedir que essas instituições entrassem em acentuadas
dificuldades. E que algumas delas desaparecessem”
Tem algum inspetor do Banco de Portugal no BES?
Tenho. Saiu uma
medida europeia segundo a qual tem de
haver inspeções permanentes «os bancos de referência, em cada mercado. O Banco
de Portugal tem inspetores permanentes nos dois maiores bancos privados
portugueses.
Qual é o segredo da enorme calma que consegue pôr em todos os atos do dia, nos encontros que tem, como se não houvesse relógio, como
se tivesse todo o
tempo do mundo, como se
não vivesse em aviões e não tivesse agenda? Questão de
genes, autodisciplina, esforço?
Com 65 anos, e depois
de ter passado par várias vicissitudes económicas entre elas a nacionalização
e de ter recomeçado a vida a partir do zero, talvez tenha ganho mais traquejo do que muitos outros. E há também o facto
de me sentir cidadão do mundo, no sentido em que conheço várias experiências noutros
hemisférios, desde o Brasil, a África, á Ásia. Estou à vontade para dizer
aquilo que penso ser o melhor para o meu país.
2010 11
ABRIL Diário de Notícias
"Não somos um banco do regime. Esta instituição
tem raízes há mais de 140 anos. Começámos na monarquia, passámos a implantação
da república, depois as nacionalizações, novamente a república.
O BES é um banco de todos os regimes.
E se sobreviveu 140 anos foi porque foi capaz de ter
sempre um comportamento absolutamente
impecável
“É preciso perceber que o sistema capitalista é amoral, tem de produzir
resultados.As pessoas é que podem ser morais ou imorais, mas o sistema tem de
ser amoral”
2012 1 SETEMBRO
Público
2012 1 OUTUBRO Exame
"O BPI e o BCP tiveram de recorrer ao capital
do Estado. Hoje, temos uma capitalização bolsista que é uma vez e meia a do BCP
mais BPI”
2013 19 JANEIRO
Expresso
“A profissão de banquetro hoje é uma profissão
complicada. O grupo atrai a atenção e o interesse dos media, e nem sempre pelas boas razões. Algumas
vezes fomos objeto de alguma perseguição
mas que foi depois corrigida. Veja-se o caso de Baltasar Garzon, em Espanha,
que nos acusou de termos feito uma operação irregular. Depois o processo foi
arquivado por manifesta falta de provas, após termos dito abundantemente que
não tínhamos cometido falha alguma."
“A minha sucessão será o mais normal possível, porque há dentro do
grupo quadros de primeiríssimo valor e felizmente para nós muitos são da
família, mas também há alguns que não são. Mas, eu ainda me sinto fisicamente bem.
Continuo a trabalhar com gosto. Levanto-me muito cedo e sou provavelmente dos
últimos a sair daqui. Gosto de novas iniciativas, de andar para a frente, mas é
natural que um dia destes chegue á conclusão que basta..."
“Tenho total confiança em José Maria Ricciardi,
presidente do BESI, e em Amílcar Morais Pires, administrador-financeiro do BES.
Têm prestado relevantíssimos serviços ao grupo BES.”
Há quem o considere o homem mais poderoso de Portugal e nos meios financeiros e económicos há mesmo quem utilize a designação DDT — dono disto tudo...
Isso é um disparate. Nem sombras. O nosso grupo procura manter a sua ética e
assim tem sido desde sempre. O que temos feito é fruto da vontade de contribuir
para o país, para a valorização do nosso país e não com o objetivo de dominar a
economia.
Um dia se fará a História, mas os
banqueiros, de uma forma geral, saíram mal desta crise financeira. Pagaram os
justos pelos pecadores.”
Já decidiu se continua à frente
do BES depois de 2015, quando terminar este mandato?
Faço o
possível para me manter em forma portanto dependerá dos acionistas. Tenho feito a minha parte, continuo a trabalhar com
ânimo, com gosto e. enfim, esta crise que requer experiência. Eu sempre fui muito ligado ao mar, além de ter
feito o meu serviço militar na Marinha, toda a vida fui desportista da vela, passei por vários temporais e sempre ouvi
dizer que os marinheiros mais experientes são os que conduzem melhor as embarcações
quando há um temporal muito grande.
2013 24 MAIO Intervenção pública
“Se os portugueses não querem
trabalhar e preferem estar no subsidio de desemprego, há imigrantes que
trabalham, alegremente, na agricultura e esse é um fator positivo”
"Já fomos nacionalizados uma
vez, em 1975, não gostaríamos de o ser novamente. Tudo
faremos para que isso não aconteça. É importante que o
banco continue robusto e siga o seu caminho sem o Estado. Se for preciso
teremos capital disponível no mercado.“
“Tudo o que tem a ver com a marca
Espírito Santo é sujeito a uma, muitas vezes desproporcionada, atenção por
parte da comunicação social. A essa atenção também não é alheia a vontade de
alguns de promover fugas de informações incendiárias com o objetivo
único de boicotar as soluções que estão a ser
desenhadas"
“O BE5 está bem e recomenda-se. O facto de termos sido mais penalizados do que outros durante os anos de
queda do PIB
terá agora o reverso favorável da medalha. A maioria dos
analistas indicam o BES como o banco mais bem apetrechado para beneficiar do
crescimento da economia”
E nós cometemos erros, todos nós
cometemos erros e eu assumo que o grupo cometeu erros, mas erros provocados pela
nossa estrutura e organização no
topo."
“A necessidade de concentração e
de tempo para dar a volta à crise levou a que não tivéssemos prestado atenção á
nossa organização administrativa, financeira, e contabilística no topo do grupo."
“O nosso commissaire aux compte da ES Internacional, que assumiu a responsabilidade dos erros
cometidos, perdeu o pé no meio
desta situação"
"A crise obrigou a uma
concentração de esforços e de atenções na área financeira e levou, pela
debilidade da estrutura da área financeira, área não-financeira, a fragilidade que
depois se materializaram, se traduziram, numa situação que nunca devia ter
acontecido.”
"Foi incompetência,
resultado da fragilidade da estrutura que devia estar, na ESI, apta a ter tudo
muito bem controladinho”
“Assumo que também sou responsável.
Faço parte de um grupo familiar em torno da ESI, todos somos responsáveis. Sou
solidário com o grupo com certeza. Agora, o que posso dizer é que a minha vida começa
às 8h30 no banco e acaba às 10 da noite no banco”
“Fui acusado de muitas coisas,
mas nunca fui verdadeiramente acusado de nada. E sobre a parte fiscal já dei
todas as explicações possíveis e imaginárias. Mas não querem saber.
Sistematicamente vêm com a mesma lengalenga. Não posso esconder que é uma coisa
terrível sentir que há uma espécie de operação cirúrgica para denegrir o meu nome
há dois anos ou há um ano e meio a esta parte,”
“Estamos absolutamente
sintonizados a evitar o Estado.”
“Não acho que me deva demitir. A
minha função é 100% no sector financeiro. Eu sei que vocês todos viram ao longo
dos anos que eu era o líder do grupo, mas eu sou responsável pelo setor financeiro
"
"O sucesso do décimo aumento
de capital do Banco após a privatização, uma operação que
venceu todas as adversidades,
mostrou, mais uma vez, a credibilidade e confiança no BES a nível nacional e internacional.
‘'No limiar de cumprir 70 anos, decidi que era
chegado o momento de passar o testemunho da liderança executiva do BES"
2014 24 JULHO
Comunicado após ter sido detido
O dr. Ricardo Salgado acredita que
a verdade e a justiça acabarão por prevalecer.
Sem comentários:
Enviar um comentário