Carlos Costa terminou a declaração dizendo "amanhã os clientes do banco podem-se dirigir às redes e encontram lá interlocutores normais"
SEGUNDA-FEIRA . 4 AGO 2014
ANDRÉ VERÍSSIMO
Um banco recapitalizado,
o Novo Banco, para onde são transferidos os activos saudáveis do BES, depósitos
e trabalhadores. Um banco mau, um veículo onde ficam os activos maus: a
exposição aos negócios da família Espírito Santo, O BES Angola e veículos
tóxicos. Foi esta a solução encontrada pelo Banco de Portugal e pelas Finanças,
para, em 48 horas, garantir a salvaguarda dos depositantes e da estabilidade do
sistema financeiro.
A intervenção tornou-se inevitável perante a
perda de acesso do banco à liquidez do Eurosistema, decretada pelo Banco
Central Europeu na sexta-feira, e com efeitos a partir de hoje. Uma
consequência da degradação dos rácios de capital para 5%, abaixo do mínimo de
7% exigido, na sequência dos prejuízos de 3,5 mil milhões contabilizados no semestre.
A recapitalização também não se pôde fazer com privados porque, segundo Carlos
Costa, o aumento em 1,5 mil milhões das imparidades assustou os investidores,
que temiam haver outras surpresas no balanço do BES.
O Novo Banco - a nova
designação é imposta pelas regras europeias - recebe uma injecção de capital
de 4,9 mil milhões de euros do Fundo de Resolução que, para já, fica como o
único accionista da instituição. O rácio de capital sobe para 8,5%, garantindo
alguma almofada.
Onde vai o fundo
buscar o dinheiro? Daquele montante, 500 milhões são contribuições da banca,
dinheiro que já está neste instrumento criado em 2012. Os restantes 4,4 mil
milhões são emprestados pelo Tesouro, retirados os 6,4 mil milhões do fundo de
recapitalização da troika. As condições do empréstimo estavam no domingo ainda
a ser negociadas com as Finanças.
O objectivo é que
este seja um banco de transição, que será vendido, no médio prazo, a
investidores privados, através da dispersão em bolsa, da venda directa a vários
interessados ou mesmo em bloco. Carlos Costa e Vitor Bento, que fica como CEO
da nova instituição, têm dado conta do interesse de várias entidades nas
últimas semanas, sem identificar quais.
v
Fica inequivocamente
afastada a possibilidade de haver perdas para os depositantes.
CARLOS COSTA
Governador do Banco de Portugal.
v
O produto da venda
irá para o fundo de resolução, que usará o dinheiro para reembolsar o empréstimo
do Tesouro. O governador do Banco de Portugal garantiu, na declaração lida
ontem à noite no Banco de Portugal, perto das 23 horas, que a operação “não
terá qualquer custo para o erário público e os contribuintes”. A solução
adoptada resulta já do novo enquadramento europeu para a resolução de bancos.
Carlos Costa
assegurou também que, “fica completamente e inequivocamente afastada qualquer
tese de poder haver perdas para os depositantes”. O Novo Bane abre hoje as
portas normalmente poderá manter o crédito às e empresas, minorando o impacto
negativo na economia.
Accionistas ficam com banco mau
Quem perde são os
accionistas grandes, como o Crédit Agricole, parceiro desde 1991, e pequenos.
Ficam donos do BES SA, na prática um mecanismo de resolução dos activos tóxicos.
O mesmo acontece com os detentores de dívida subordinaria. Destes activos faz
parte a exposição ao GES, os veículos de investimentos encontrados
recentemente, o BES de Angola, entre outros. Estes activos estão já descontados das imparidades,
o que aumenta a possibilidade de recuperação. Mas nunca dos valores originais.
Além da auditoria
forense levada a cabo pelo Banco de Portugal e a CMVM, que decorrerá até ao final
de Setembro, vai avançar nova auditoria patrimonial, que durará também cerca de
um mês e meio.
Carlos Costa procurou ontem
justificar o facto de o supervisor ter sido surpreendido com imparidades muito
superiores ao valor inicial, apontando para a existência de ilícitos
praticados pela anterior administração. Os indícios recolhidos serão usados
em processos contraordenacionais contra a anterior administração e enviados
também para o ministério público.
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