ALEXANDRA NORONHA
A sociedade de advogados TLCB tem neste momento cerca
de 40 casos em cima da mesa, entre investidores individuais e intermediárias do
sector, que buscam ajuda para os seus clientes.
Depois dos investidores
individuais, agora são as gestoras financeiras que querem avançar contra o BES
em nome dos clientes que perderam os seus investimentos, sobretudo no período
do aumento de capital do antigo banco, que depois foi alvo de intervenção pelo
Banco de Portugal.
A sociedade de advogados TLCB tem em mãos cerca de 40
processos, segundo adiantou ao Negócios o sócio executivo, Luís Couto.
“Tanto temos casos em que somos procurados por pessoas
individuais, como casos em que somos procurados por intermediárias financeiras,
que buscam ajuda para os seus clientes”, explicou.
Este número pode aumentar porque, diz o mesmo
advogado, têm havido “solicitações quase diárias para a análise de novos
casos”.
Os processos estão a ser intentados
“fundamentalmente, por investidores no norte do País, que adquiriram acções
antes, durante e após o aumento de capital do BES”, refere Luís Couto. Recorda
ainda que muitos
destes queixosos
fundamentaram “a sua decisão de compra nas declarações de conforto prestadas
publicamente, tanto pelo Banco de Portugal, como por altas figuras do Estado
português, que lhes incutiram a convicção de que estavam a realizar um investimento
minimamente seguro e com grande probabilidade de retorno”.
A TLCB quer juntar várias acções para obter ganhos de escala nos custos.
A TLCB está a analisar caso a caso, mas Luís Couto
afirma que o objectivo é “coligar o maior número possível de investidores nas
acções a propor, seja por uma questão de ganho de escala nos custos judiciais,
de força argumentativa ou negocial”.
Neste momento, os advogados estão “na fase de recolha
e análise de documentação” e contam “muito em breve promover os competentes procedimentos
judiciais” contra os administradores do antigo BES e entidades públicas que
consideram ser culpadas pela derrocada do banco, refere Luís Couto.
Um dos processos em análise pela TLCB é o de José
Eduardo Pimentel, empresário, já experiente em investimentos deste género.
Em entrevista por escrito ao Negócios o empresário
refere que chegou a ter uma posição no BES em ocasiões anteriores ao aumento
de capital, mas que tinha vendido essa participação meses antes.
O investimento posterior foi feito não só “no aumento
de capital” mas também “subsequentemente”, à medida que ia mobilizando as verbas,
explica.
A opção foi por acções do banco, “por convicção total
e voto de confiança no BES e sua solvência”, ressalva José Eduardo Pimentel
quer agora accionar “o conjunto de admnistradores do ex-BES responsáveis
pelos actos cometidos na descapitalização” do banco, “assim como o Banco de
Portugal, a CMVM e seus dirigentes”.
O empresário considera ainda que além de Ricardo
Salgado, outro dos principais culpados é o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho,
que, “no apogeu da tragédia, se escondeu na Manta Rota em vez de ter dado a
cara e feito a intervenção que lhe era imposta na defesa do interesse
nacional”.
José Eduardo Pimentel diz que a sua vida nunca mais
vai ser a mesma.
“O impacto para mim foi da maior violência (centenas de milhares de euros
na fogueira) sendo esse o valor com que contava para viver em paz o resto dos
meus dias”, lamenta. ■
Órgãos
sociais do BES e Estado são os visados
As acções que a TLCB
tem em cima da mesa passam por duas estratégias.
Por um lado, está a
ser estudada a “responsabilidade dos membros dos cargos de administração e
fiscalização do BES, em sede de responsabilidade funcional, […] que trata da
responsabilidade civil pela constituição, administração e fiscalização da
sociedade”.
Além disso, existe a “possibilidade
de responsabilização do Estado, […] desde logo pela preterição dos requisitos
para a aplicação da medida de resolução, considerando a legislação interna e a
Directiva Comunitária de onde deriva esse regime”. Ou seja, a TLCB contesta a
forma como o banco foi intervencionado pelo Banco de Portugal e quer usar isso
num possível caso em tribunal.
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