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sábado, 27 de dezembro de 2014

Goldman Sachs furiosa com BdP

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José Luis Arnaud e António Esteves são os portuguese com posições mais relevantes na Goldman Sachs, o gigante do banco de investimentos. Por eles passou o empréstimo ao BES que agora Carlos Costa, governador do Banco de Portugal diz que afinal fica no ban "mau". O mesmo que dizer que muito provavelmente nunca será pago.
Texto João Vieira Pereira
27 de Dezembro de 2014
Polémica Banco norte-americano ficou sem 834 milhões de dólares. Processo segue para os tribunais

Foi com um misto de incredibilidade e irritação que os mais altos res­ponsáveis do banco de investimento Goldman Sachs (GS) receberam “pelos jornais” a notícia de que o banco e alguns dos seus clientes tinham acabado de perder 834 milhões de dólares (684 milhões de euros).

Na segunda-feira, o Banco de Portugal deliberou que a dívida contraída pela Goldman Sachs através de um veículo sediado no Luxemburgo, a Oak Finance, tinha afinal ficado no BES.

O facto comunicado à CMVM tem um impacto positivo no Novo Banco de 548,3 milhões de euros.
Esta deci­são, tomada quase cinco meses depois da separação do BES, foi justificada por só agora o Banco de Portugal (BdP) ter tido provas que a Goldman Sachs e a Oak Finance eram a mesma entidade.
E como o banco americano teve nos últimos dois anos mais de 2% do BES é considerado um acionista de referência, pelo que todos os seus ativos transitam para o banco “mau”.
Estes argumentos são totalmente des­mentidos pela GS, que garante que o Banco de Portugal sempre soube que a Oak Finance era da Goldman e acres­centa que só teve mais de 2% do BES em representação de clientes.

O banco norte-americano, do qual António Esteves é partner e José Luís Arnaut faz parte do International Advisory Board, promete lutar até às últi­mas consequências contra o Banco de Portugal e contra o Novo Banco.
Pro­cessos que colocam em causa a venda da instituição liderada por Stock da Cu­nha nos prazos definidos pelo Governo.

O BdP sabia?

A notícia apanhou a GS de surpresa, confiante desde agosto que o empréstimo que tinha feito ao BES no últi­mo dia de junho estava no balanço do Novo Banco e não no banco “mau”.
Isso mesmo tinha sido transmitido aos mais altos responsáveis da Goldman Sachs pelo próprio Banco de Portugal e pela anterior e pela atual adminis­tração do Novo Banco.
O banco nor­te-americano enviou uma carta para ao BdP no dia 7 de agosto a perguntar qual o tratamento que ia ser dado à di­vida que tinha junto do BES.
A carta, a que o Expresso teve acesso, questiona sobre quem recai a responsabilidade da dívida subordinada do BES, onde se enquadram as obrigações emitidas pela sociedade-veículo Oak Finance.

A resposta foi enviada por e-mail pelo então director-adjunto do depar­tamento de supervisão do Banco de Portugal. Pedro Machado, no dia 11 de agosto.
No e-mail — dado a conhecer a outros quadros do Banco de Portu­gal, a António Esteves (um dos sócios da GS e responsável pelo mercado português) e a John Tribolati (um dos responsáveis mundiais do departa­mento legal do banco de investimen­to), Pedro Machado é claro a dizer que a dívida tinha transitado pera o Novo Banco.
Nesse mesmo dia o Novo Banco, ainda liderado por Vítor Bento, foi informado da decisão tendo re­confirmado a mesma perante a Gold­man Sachs.
O e-mail do departamento jurídico, reafirma à GS que aquela dívida transita para o Novo Banco e é enviado com o conhecimento de João Moreira Rato, à altura CFO do Novo Banco, e dos advogados do escritório de Vieira de Almeida.

Segundo apurou o Expresso junto de fontes da GS, este é a primeira par­te de uma troca de correspondência tripartida com o Novo Banco e o su­pervisor português.

Questionado sobre a troca de corres­pondência do início de agosto, o Banco de Portugal diz que a carta de dia 7 apenas "colocava questões genéricas sobre os critérios de transferência de passivos para o Novo Banco”, não fa­zendo qualquer referência ao crédito da Oak Finance.
Fonte oficial do Banco de Portugal alega ainda que a resposta ”foi também genérica, sem qualquer menção ao referido crédito, tanto mais que, àquela data, não era do conhe­cimento do BdP que a Oak Finance atuava por conta da GS”.
O Expresso sabe que o supervisor alega que só mais tarde conseguiu determinar que a Oak Finance atua por conta da GS.

GOLDMAN SACHS
DIZ QUE O BDP
SEMPRE LHE
GARANTIU QUE A
DÍVIDA FICAVA NO
NOVO BANCO



Novo Banco em default?

Esta decisão foi tomada três dias antes de vencer o primeiro cupão das obri­gações.
No dia de Natal, a GS devia ter recebido uma "prenda” de várias dezenas de milhões de euros do Novo Banco referente ao pagamento de par­te da dívida.
Até ao dia de hoje nada foi pago e como, soube o Expresso, nem a Goldman Sachs nem a Oak Finance foram formalmente notificadas da decisão do Banco de Portugal, o ban­co norte-americano considera que o Novo Banco está em incumprimento e promete acionar os mecanismos legais contra a instituição liderada por Eduardo Stock da Cunha. Uma situação que poderá obrigar o banco a constituir provisões no valor da di­vida em causa, que é juridicamente complexa, e irá arrastar a decisão de venda do Novo Banco.

Contactado, o Banco de Portugal diz que a decisão foi notificada à própria Oak Finance, por ser ela a contra-parte direta do contrato celebrado com o BES em 30 de junho de 2014.
E adianta que “não obstante, e na se­quência dos contactos estabelecidos pela GS junto do Banco de Portugal, irá ser dado conhecimento oficial à GS do teor da deliberação do Banco de Portugal”.

O problema dos 2%

O principal argumento para a decisão do Banco de Portugal é o fato da GS ter sido acionista.
O supervisor disse ao Expresso que “a não transferência destes créditos para o Novo Banco é uma imposição legal, não tendo o Banco de Portugal poderes para abrir exceções”.
E adianta que por ser uma imposição legal, a GS não poderia des­conhecer que o crédito detido pela Oak Finance não foi transferido para o Novo Banco.

O banco americano contesta ter sido acionista de referência do BES, apesar de ter comunicado esse facto à CMVM no dia 22 de julho de 2014.
A aparente contradição é explicada pela GS com o papel de intermediário dos seus clien­tes.
Na prática, a GS diz que apenas agregava as participações que eram delidas por clientes,
Uma coisa é certa.
Há demasiadas tecnicidades e legalismos em todo este processo que prometem fazer com que este se arraste nos tribunais.
Para já, altos quadros do GS apenas dizem que é a imagem de Portugal que fica danificada, questionando mesmo se perante estes acontecimentos haverá mais alguém que queira investir em Portugal.

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