Igor Siletsky - 4 de Dezembro de de 2014 - 18:48
“Cinismo puro”, foi como o presidente da Rússia qualificou as tentativas dos países ocidentais de justificarem os acontecimentos na Ucrânia com a defesa dos direitos humanos. Foi com a crise ucraniana que Vladimir Putin iniciou sua comunicação à Assembleia Federal.
Na opinião dos peritos, isso confirma mais uma vez que Moscou está interessada na paz e estabilidade do país vizinho.
Na sua 11ª Mensagem anual, o líder russo definiu as direções principais da política externa e interna, assim como as futuras transformações econômicas.
A Ucrânia e os acontecimentos ucranianos são o maior desafio que hoje se coloca à Rússia, referem os cientistas políticos, e não é de estranhar que o presidente tenha iniciado sua Mensagem com uma análise da crise ucraniana.
De acordo com Vladimir Putin, o Ocidente apoiou de fato a tomada do poder pelas armas, a violência e os assassinatos.
Só por si os acontecimentos de Odessa, onde pessoas foram queimadas vivas, já dizem muito.
Os EUA e Bruxelas apoiaram as tentativas que se seguiram para reprimir, com recurso às forças armadas, as populações do sudeste que não aceitaram esses abusos.
Tudo isso é camuflado com uma alegada luta pela democracia.
Isso não pode ser chamado senão de cinismo, afirma Putin.
Para o Ocidente foi especialmente penosa a “primavera da Crimeia”.
Contudo, em primeiro lugar, a Crimeia está indissociavelmente ligada à Rússia.
Além disso, no caso da Crimeia, e ao contrário do que se passou em Kiev, todo o processo foi absolutamente legal, declarou Vladimir Putin:
“Como se sabe, em março deste ano na Crimeia foi realizado um referendo, no qual a população da península expressou claramente a sua vontade de se unir à Rússia.
Depois se seguiu a decisão do parlamento da Crimeia – sublinho, absolutamente legítimo, eleito ainda em 2010 – sobre a independência.
Finalmente, aconteceu a reunificação histórica da Crimeia e de Sevastopol com a Rússia. Para o nosso país, para o nosso povo, esse acontecimento tem uma enorme importância. Porque na Crimeia vive a nossa gente, e o próprio território tem importância estratégica, e porque é precisamente aqui que se encontra a origem espiritual da formação de uma nação russa multifacetada, mas monolítica, e de um Estado Russo centralizado.”
Quanto ao Ocidente, ele não iniciou ontem sua política de “contenção” da Rússia, mas há dezenas de anos.
No caso de não ter havido um agravamento da situação na Ucrânia e os acontecimentos da Crimeia, os parceiros estrangeiros teriam inventado outros pretextos para isolar Moscou, afirma Vladimir Putin:
“Não se trata simplesmente de uma reação nervosa dos EUA e seus aliados à nossa posição relativamente ao golpe de Estado na Ucrânia.
E nem mesmo no contexto da chamada “primavera da Crimeia”.
Estou convicto que, se não tivesse havido nada disso, eu desejo sublinhá-lo, eles teriam inventado algum outro pretexto para conter as crescentes potencialidades da Rússia, pressioná-la, ou ainda melhor, usá-la nos seus interesses.
“A política de contenção não foi inventada ontem.
Ela já é praticada, relativamente ao nosso país, há muitos anos, há décadas, senão mesmo há séculos.
Cada vez que alguém considera que a Rússia se tornou demasiado forte, independente, logo são iniciados esses mecanismos.
Contudo, é inútil dialogar com a Rússia a partir de uma posição de força.
Mesmo quando ela enfrenta dificuldades internas.”
O presidente sublinhou: é preciso tratar com respeito os interesses legítimos de todos os participantes do diálogo internacional.
Só que nesse caso não serão os canhões, os mísseis ou os aviões de combate, mas sim precisamente as normas do direito internacional a defender com segurança o mundo contra os conflitos sangrentos.
Nesse caso não será necessário intimidar seja quem for com pretenso isolamento, se iludindo a si próprios, ou com sanções – as quais são, com certeza, prejudiciais, mas são prejudiciais para todos, inclusive para aqueles que as decretam, declarou Vladimir Putin. Por seu lado, Moscou nunca irá escolher o caminho do auto-isolamento, da xenofobia, da desconfiança e da procura de inimigos.
Seu objetivo é adquirir cada vez mais parceiros iguais, tanto no Ocidente, como no Oriente, disse Putin.
Parece que o Ocidente não quer perceber isso.
O sistema global de defesa antimísseis, que os EUA estão criando, ameaça a segurança não apenas da Rússia, mas de todo o mundo, violando o equilíbrio de forças estratégico. Na opinião de Putin, isso é mau para os próprios EUA porque cria uma perigosa ilusão de invulnerabilidade e aumenta a vontade de tomar decisões unilaterais e imponderadas.
Mas o principal é que todos esses esforços de Washington são inviáveis, na opinião de Vladimir Putin:
“Nós não tencionamos nos envolver numa dispendiosa corrida aos armamentos.
Mas, entretanto, nós iremos manter de forma segura e garantida a capacidade de defesa do nosso país nas novas condições.
Não há qualquer dúvida que isso será feito.
A Rússia tem tanto capacidades, como soluções criativas.
Ninguém conseguirá obter a supremacia militar sobre a Rússia.
O nosso exército é moderno e capaz.
Para defendermos a nossa liberdade nós temos força, vontade e coragem suficientes.”
Tendo passado da política à economia, o presidente reconheceu: a situação do país é complexa e exige medidas especiais.
Nomeadamente, Putin propôs o congelamento por quatro anos dos impostos em vigor e a realização a curto prazo das decisões já aprovadas para aliviar a carga fiscal.
Além disso, o presidente exigiu a aprovação de medidas duras contra os especuladores financeiros que jogam com o câmbio do rublo.
Vladimir Putin referiu: a liderança do país “sabe quem são esses especuladores”.
As autoridades têm mecanismos para pressioná-los.
Os maiores meios de comunicação social ocidentais já reagiram à intervenção do presidente da Rússia.
Muitos ficaram desapontados: parece que eles esperavam uma “suavização da posição do Kremlin”, mas ouviram um “discurso sem compromissos”.
Foi dada uma resposta bem clara a essas expectativas: como sublinhou Vladimir Putin, a Rússia são se vai “curvar” perante o Ocidente.
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