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sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Depósitos capaturados ao BES não dão crédito à economia

O Novo Banco perdeu cerca de 10 mil milhões de euros nos últimos meses. Cerca de metade foi depositado pelos clientes junto dos outros grandes bancos nacionais
PAULO MOUTINHO
paulo moutinho@negócios.pt - 7 de Novembro de 2014
Quase cinco mil milhões de euros. Foi  quanto rendeu, aos grandes bancos nacionais, a fuga de depósitos do BES. Ficaram com dinheiro extra em mãos, mas isso não foi suficiente para concederem mais financiamento à economia. O crédito escolheu.

Conhecidas as contas dos principais bancos do sector financeiro nacional, percebe-se o impacto da resolução do BES. Receando pela segurança das suas poupanças, os portugueses retiraram do Novo Banco mais dde 10 mil milhões de euros. Grande parte do dinheiro foi canalizado, essencialmente, para aplicações sem risco. Onde? Em depósitos nos outros grandes bancvos do sistema. Inundaram-nos de liquidez, mas nem assim a economia recebeu mais crédito. Houve um abrandamento na queda, mas o saldo no trimestre voltou a ser negativo, um reflexo, dizem os economistas, do medo do risco dos bancos, mas também da falta de procura.

A CGD, em especial, mas também Santander Totta, BCP e BPI assistiram,no último trimestre, à entrada de elevadosmontantes em depósitos. A CGD, sózinha, captou 2.997 milhões de euros, mas o Totta encaixou 1.553 milhões, mas que os 1.175 do BCP e os 891,8 milhões do BPI. O total? 6.616 milhões de euros. 
Uma parte deste dinheiro foi fruto da transferência entre produtos dentro do mesmo banco, mas olhando para os recursos dos clientes no balanço percebe-se que houve a entrada de 4.405 milhões, montante que teve na sua origem aplicações que estavam no BES. Depois da quebra no trimestre homólogo, os recursos cresceram, no total, em 1,56%.

Bancos namtém critérios exigentes
Com dinheiro extra, era natural que os bancos procurassem voltar a colocá-lo no mercado sob a forma de empréstimos - tentando aumentar a margem financeira com a concessão de crédito a um custo superior aquele a que remuneram as poupanças. Tal não aconteceu. A tendência no crédito abrandou (face à redução de 3.484 milhões de euros registada no trimestre homólogo), mas caiu em 1.466 milhões. Caiu nos particulares, mas foi mais expressivo no caso das empresas onde o saldo global registou uma diminuição de 1.200 milhões de euros em três meses. No acumulado dos nove meses, o valor encolheu 6,3%

"Parece que os bancos procuram dar mais crédito, mas mantêm critérios exigentes de selecção", diz Paula Gonçalves Carvalho. Um deles é através dos "spreads" que, nas empresas, se traduzem em taxas entre 4% e 5%. "Há receios de instabilidade no mercado financeiro internacional face à perspectiva de políticas monetárias divergentes", diz a economista-chefe do BPI.

"Os rácios de endividamento do sector privado em Portugal ainda são muito elevados", pelo que é difícil encontrar bons créditos, remata Paula Gonçalves Carvalho. "Os bancos nacionais não pretendem aumentar o risco das suas carteiras", cautela para a qual contribui também o grande foco do sector no objectivo de apresentarem rácios de capital sólidos.

Empresas procuram pouco o crédito
Esta evolução explica-se, em parte, pelo travão da banca ao crédito, mas também pela fraca apetência por financiamento da economia num contexto em que há grandes dúvidas sobre qual a tendência futura. "Há pouca procura por crédito por parte das empresas, atendendo aos resultados do inquérito aos bancos divulgados pelo Banco de Portugal", lembra Paula Carvalho, sustentando que para que se assista a uma inversão da tendência é preciso que na banca e nas empresas se comece a ter a percepção de que a actividade económica está a evoluir positivamente.

"A melhoria de expectativas em geral e o reforço da actividade económica, de forma a que os balanços dos bancos se regenerem e possam suavizar os critérios de concessão" terá um grande peso no aumento da concessão de financiamento por parte do sector financeiro à economia nacional. "pelo lado das empresas, nota-se uma maior precaução ou retracção, mesmo que tenham liquidez. Ou seja, é preciso que regresse a apetência pela realização de investimento", remata a especialista.

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