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terça-feira, 11 de novembro de 2014

PT caiu do pedestal

ALEXANDRA MACHADO amachado@negocios.pt          EDGAR CAETANO edgarcaetano@negocios.pt
10 de Julho de 2014
A Portugal Telecom está cotada desde 1995. Foi estrela da bolsa de Lisboa.
Agora perdeu brilho. Renova mínimos históricos. A credibilidade está afectada.
Também o mercado mostra desconforto

Foi criada há 20 anos, quase tantos como tem de presença em bolsa. Construiu ao longo das duas décadas uma imagem de sociedade com boa governação corporativa. Ganhou vários prémios por isso. E agora?

Já não é a primeira vez que a Portugal Telecom está com os holo­fotes dirigidos a si.
Uma história de 20 anos tem muito para contar e, por isso, várias crises já tiveram de ser comunicadas e geridas. Quando, em 2005, o seu presidente executivo, Miguel Horta e Costa, viu o nome envolvido no escândalo político bra­sileiro Mensalão. Quando, em 2006, a PT assumiu ter errado no envio de dados telefónicos não requeridos para um tribunal, no que ficou co­nhecido por caso Envelope 9. Quan­do, em 2009, a Portugal Telecom in­vestiu 75 milhões de euros em fun­dos da Ongoing, um dos seus accio­nistas de referência. Quando, em 2010, dois administradores da Por­tugal Telecom - Rui Pedro Soares e Soares Carneiro - foram envolvidos na alegada tentativa de controlo da comunicação social pelo Governo, o que aconteceria com a compra pela operadora de uma posição na TVI.

Casos polémicos que colocaram o foco na Portugal Telecom e nas suas relações com accionistas ou com o Governo. Mas nenhum des­tes casos infligiu tanta perda no va­lor da acção da Portugal Telecom, com a capitalização a cair abaixo dos dois mil milhões de euros. Nem quando entrou em bolsa valeu tão pouco. Nem quando vendeu a Vivo. Nem quando destacou a PT Multimédia. Nem quando registou pre­juízos.

Mesmo nos momentos difíceis de gestão de imagem, a PT compen­sou com presença junto do mercado de capitais. E não só. Em plena crise do caso TVI, Zeinal Bava saiu do Parlamento saudado pelos deputa­dos e desejando-lhe sorte para a batalha contra a Telefónica no caso Vivo. Zeinal Bava já não preside à PT, mas o mercado ainda identifica a empresa com o gestor que, agora, se distancia do caso Rioforte.

A PT foi uma face visível do ca­pitalismo popular na bolsa de Lis­boa. Hoje perdeu peso. A PT está fe­rida. Os próprios trabalhadores reconhecem-no: “A imagem da PT está arrasada”, desabafa um. Agora nota-se, também, ao nível do merca­do de capitais. Desde que foi anun­ciada a aplicação de 897 milhões de euros em dívida da Rioforte, a ope­radora tem renovado mínimos his­tóricos.

“Os investidores podem ter per­dido um pouco de fé na Portugal Te­lecom”, admite Javier Borrachero, analista da Kepler Cheuvreux, sus­tentando, no entanto, que “se este caso não tiver impacto na fusão, ra­pidamente teremos outra compa­nhia, domiciliada no Brasil, o que po­derá ser um novo começo”. Jabier Borrachero não tem dúvidas de que “com o tempo [o caso] será esqueci­do”.

Mas terá de haver um processo de reconquista da credibilidade. Tal como em 2009 a PT mudou as regras internas depois de conhecido o investimento de 75 milhões em fundos da Ongoing, aprovados também à margem do conselho de administração, também agora se reclamam medidas. Em particular ao nível do governo das sociedades. “A confiança tem de ser restabelecida. O relacionamento com o Espírito Santo tem de ser analisado. Os investidores ficariam muito desconfortáveis se sentissem que a PT saltaria em socorro do GES sempre que fosse necessário”, afirma ao Negócios Javier Borrachero. Também Alexandre Iatrides, analista da OddoCie, coloca interrogações. “A quantidade é tão elevada que é suspeita”. São 897 milhões de euros aplicados em dívida de uma sociedade, sem diversificação. “É uma quantia enorme, o que coloca questões ao nível da governação” da empresa.

A Portugal Telecom fecha o ciclo de 20 anos com danos reputacionais. A fusão com a Oi está a caminho, o que levará à criação de uma nova empresa. Uma reputação demora tanto tempo a construir e tão pouco a destruir.

A partir do Outono, se a fusão se concretizar, a PT, tal como a co­nhecemos hoje, acabará. Em seu lugar estará uma empresa brasi­leira, com algum capital portu­guês. Será, como disse Javier Borrachero, um novo começo.


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