ALEXANDRA MACHADO amachado@negocios.pt EDGAR CAETANO edgarcaetano@negocios.pt
10 de Julho de 2014
A Portugal Telecom está cotada desde 1995. Foi estrela da bolsa de Lisboa.
Agora perdeu brilho. Renova mínimos históricos. A credibilidade está afectada.
Também o mercado mostra desconforto
Foi criada há 20
anos, quase tantos como tem de presença em bolsa. Construiu ao longo das duas
décadas uma imagem de sociedade com boa governação corporativa. Ganhou vários
prémios por isso. E agora?
Já não é a primeira
vez que a Portugal Telecom está com os holofotes dirigidos a si.
Uma história de 20
anos tem muito para contar e, por isso, várias crises já tiveram de ser
comunicadas e geridas. Quando, em 2005, o seu presidente executivo, Miguel
Horta e Costa, viu o nome envolvido no escândalo político brasileiro Mensalão.
Quando, em 2006, a PT assumiu ter errado no envio de dados telefónicos não
requeridos para um tribunal, no que ficou conhecido por caso Envelope 9. Quando,
em 2009, a Portugal Telecom investiu 75 milhões de euros em fundos da
Ongoing, um dos seus accionistas de referência. Quando, em 2010, dois
administradores da Portugal Telecom - Rui Pedro Soares e Soares Carneiro -
foram envolvidos na alegada tentativa de controlo da comunicação social pelo
Governo, o que aconteceria com a compra pela operadora de uma posição na TVI.
Casos polémicos que
colocaram o foco na Portugal Telecom e nas suas relações com accionistas ou com
o Governo. Mas nenhum destes casos infligiu tanta perda no valor da acção da
Portugal Telecom, com a capitalização a cair abaixo dos dois mil milhões de
euros. Nem quando entrou em bolsa valeu tão pouco. Nem quando vendeu a Vivo.
Nem quando destacou a PT Multimédia. Nem quando registou prejuízos.
Mesmo nos momentos
difíceis de gestão de imagem, a PT compensou com presença junto do mercado de
capitais. E não só. Em plena crise do caso TVI, Zeinal Bava saiu do Parlamento
saudado pelos deputados e desejando-lhe sorte para a batalha contra a
Telefónica no caso Vivo. Zeinal Bava já não preside à PT, mas o mercado ainda
identifica a empresa com o gestor que, agora, se distancia do caso Rioforte.
A PT foi uma face
visível do capitalismo popular na bolsa de Lisboa. Hoje perdeu peso. A PT
está ferida. Os próprios trabalhadores reconhecem-no: “A imagem da PT está
arrasada”, desabafa um. Agora nota-se, também, ao nível do mercado de capitais. Desde que foi anunciada a
aplicação de 897 milhões de euros em dívida da Rioforte, a operadora tem
renovado mínimos históricos.
“Os investidores podem ter perdido um pouco de fé na
Portugal Telecom”, admite Javier Borrachero, analista da Kepler Cheuvreux, sustentando,
no entanto, que “se este caso não tiver impacto na fusão, rapidamente teremos
outra companhia, domiciliada no Brasil, o que poderá ser um novo começo”.
Jabier Borrachero não tem dúvidas de que “com o tempo [o caso] será esquecido”.
Mas terá de haver um processo de reconquista da
credibilidade. Tal como em 2009 a PT mudou as regras internas depois de
conhecido o investimento de 75 milhões em fundos da Ongoing, aprovados também à
margem do conselho de administração, também agora se reclamam medidas. Em
particular ao nível do governo das sociedades. “A confiança tem de ser
restabelecida. O relacionamento com o Espírito Santo tem de ser analisado. Os
investidores ficariam muito desconfortáveis se sentissem que a PT saltaria em
socorro do GES sempre que fosse necessário”, afirma ao Negócios Javier
Borrachero. Também Alexandre Iatrides, analista da OddoCie, coloca
interrogações. “A quantidade é tão elevada que é suspeita”. São 897 milhões de
euros aplicados em dívida de uma sociedade, sem diversificação. “É uma quantia
enorme, o que coloca questões ao nível da governação” da empresa.
A Portugal Telecom
fecha o ciclo de 20 anos com danos reputacionais. A fusão com a Oi está a
caminho, o que levará à criação de uma nova empresa. Uma reputação demora tanto
tempo a construir e tão pouco a destruir.
A partir do Outono,
se a fusão se concretizar, a PT, tal como a conhecemos hoje, acabará. Em seu
lugar estará uma empresa brasileira, com algum capital português. Será, como
disse Javier Borrachero, um novo começo.
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