JUNCKER Presidente da Comissão promete apresentar plano de investimentos até ao Natal
TEXTO Luísa Meireles INFOGRAFIA Sofia Miguel Rosa
Depois dos dez anos do português José Manuel (Durão) Barroso, segue-se agora a liderança do experiente luxemburguês Jean-Claude Juncker.
Os desafios com que a nova Comissão se depara são enormes. Começando no emprego e competitividade da economia europeia.
Amanhã é o dia um da nova Comissão
Pronto. É já amanhã. Os relógios acertam a zero e a nova Comissão Europeia, liderada pelo luxemburguês Jean-Claude Juncker vai entrar em funções. Para trás ficaram as delicadas negociações com os Governos, as complicadas discussões sobre cada um dos candidatos, os reajustamentos de última hora para contentar indecisos e reninentes.
A 22 de outubro, no Parlamento Europeu, 423 votos a favor, 209 contra e 67 abstenções selaram o sim à nova Comissão.
COMO SE CHEGOU À NOVA COMISSÃO EUROPEIA
Oficialmente, os votos estão feitos. Ao intervir no Parlamento Europeu, Juncker prometeu que a sua luta maior seria acabar com a desconfiança crescente em relação à construção europeia. "Esta será a Comissão de última chance", disse.
"Ou conseguimos aproximar os cidadãos da Europa e reduzir de forma draconiana o nível de desemprego e dar uma perspectiva europeia aos jovens, ou fracassamos".
Foi ambicioso: "Quero uma Europa dotada de triplo A social, que é tão importante como um triplo A económico e financeiro". A prioridade? "A luta contra o desemprego". E prometeu acima de tudo "uma Comissão política, muito política-a Comissão não é uma multidão de altos funcionários anónimos", sublinhou, na qual os diretores-gerais, todos competentes, devem obedecer aos comissários e não o contrário.
Um recado para dentro, sem dúvida, um aviso à navegação que se traduziu numa reorganização da arquitetura da Comissão. Os nos sete vice-presidentes serão os responsáveis pelas prioridades políticas da Comissão e que coordenarão a ação dos demais comissários. Uma inovação que mereceu não poucas interrogações por parte dos eurodeputados mas que se espera dê bons frutos. Mas uma delas - a delegação de parte significativa das competências do Presidente - contrasta vivamente com a do seu antecessor, frequentemente acusado de ser cdemasiado centralizador.
"OUSAR MAIS POLÍTICA"
Juncker tem pela frente o grande desafio de virar a página da austeridade, em primeiro lugar. "Para aqueles que pensam que a austeridade excessiva vai reanimar o crescimento e criar mais empregos, essa ideia acabou", disse, num desafio a quem prega o contrário. E quanto a isso concordam socialistas, populares e liberais. Martin Schulz, o presidente socialista do Parlamento, deu o tom no apoio:"Esta comissão começa sob bons auspícios. Queremos uma Comossão que faça escolhas, defenda-as e as leve a cabo. Nas últimas eleições tivemos a coragem de 'ousar mais democracia' ao nível europeu. Agora é tempo de ousar mais política".
Os portugueses alinharam nas expectativas: o social-democrata Paulo Rangel, da mesma família política, espera que "o acento tónico seja posto no crescimento e na criação dde emprego"; Carlos Zorrinho, pelos socialistas, diz o mesmo por outras palavras:"maior flexibilidade macroeconómica e maior incentivo ao investimento".
Para esse objectivo conta sem dúvida o plano de investimentos de 300 mil milhões que Juncker prometeu, mas que não concretizou como os obterá. Entregá-lo-á até ao Natal, prometeu, e fá-lo em colaboração com o finlandês Jyrki Katainen, vice-presidente para o Emprego, Crescimentos, Investimento e Competitividade.
Provavelmente advirão de "projects bonds" (obrigações dirigidas a projectos), mas também de capital privado, segundo afirmou.
UM ROL DE DESAFIOS
Mas não serão fáceis os tempos para já.O primeiro dos testes à capacidade e habilidade política na nova Comissão já está em curso: como vai resolver a "insurreição" francesa e italiana, que não cumprem os critérios do défice e da dívida?
Apesar dos sinais positivos que apontam para umcompromisso, o desafio é complexo. Afinal, aquilo em que cecdem os respectivos governos, não chega. Mas uma reprimenda e muito menos um chumbo, como alguns dos falcões desejariam, parece fora de causa.
Outro dos temas complexos será o Reino Unido. O "presente envenenado" que a Comissão Barroso deixa - um pedido de contribuição suplementar no valor de 2,1 mil milhões de euros deste país para o orçamento comunitário (em linha com o aumento do PIB do Reino Unido) é liminarmente recusado por Londres. Em caso de não pagamento, o Reino Unido sujeita-se a uma multa.
Como lidará Juncker com o assunto é uma incógnita, sabendo-se ainda por cima que há outros dossiês delicados com a Grâ-Bretanha em cima da mesa, como o trema da imigração e o referendo sobre a adesão à União.
O acordo sobre Comércio e Investimentos com os Estados Unidos (TTIP) é outro dos desafios, em particular o tema dos tribunais arbitrais para dirimir os diferendos, que os europeus recusam, mas que os EUA pretendem.
E haverá outros, muitos outros, que agora apenas se advinham. Mas isso já são outras contas
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