12:14 Terça feira, 25 de novembro de 2014
A imprensa nacional de hoje revê os últimos fatos após ser decretada a prisão preventiva do ex-primeiro-ministro e avança as possíveis repercussões na vida política. Há uma linha que separa o Sócrates-político e o Sócrates-cidadão?
Em manchete, o "Jornal de Negócios" resume, sobre a foto cortada do rosto de José Sócrates, a notícia do momento: "Preso".
É o sumário informativo desta terça-feira, num consenso que todos os jornais acompanham, seja para falar em "terramoto político", como é o caso do "Diário Económico", seja para ir direto aos factos, como prefere o Público: "José Sócrates, amigo empresário e motorista em prisão preventiva".
No interior das páginas da imprensa diária, a revisão da matéria que ainda sacode o país. O ex-primeiro-ministro é suspeito dos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção, tendo já pernoitado na cadeia de Évora, depois de o juíz Carlos Alexandre lhe ter decretado a mais agravada das medidas de coação.
Fazendo eco do protesto do advogado de defesa de Sócrates, para quem a decisão é "injusta e injustificada", a imprensa diz que Joao Araújo vai recorrer.
E na procura de uma justificação para a prisão preventiva é dada à estampa, como "motivo mais plausível" (diz o "Público"), o "perigo de perturbação da investigação".
No artigo que faz a primeira página do "Público", há espaço para outra crítica, a que parte do penalista Artur Marques, surpreendido pela "arrogância" do comunicado do juíz Carlos Alexandre.
Quando não se explica o enquadramento que originou a opção pela prisão preventiva, "a imagem que vamos passar é a de que mandamos um ex-primeiro-ministro para a cadeia e não precisamos de explicar porquê", afirma.
Em matéria de opinião, multiplicam-se os artigos sobre o caso.
No "Diário de Notícias" escreve Mário Soares, para condenar o "anormal aparato fortemente lesivo do segredo de justiça" que rodeou a detenção de José Sócrates.
O antigo Presidente da República considera que o que foi feito ao ex-primeiro-ministro "não pode passar em vão", tal como não pode passar em vão o espectáculo mediático que a comunicação social tem feito, violando também ela o segredo de justiça".
A dimensão política do caso
O jornalista José Vitor Malheiros aborda, no "Público", a dimensão política do caso.
"Se Sócrates fosse acusado de violência doméstica ou de contrabando de droga, essas acusações poderiam ser absolutamente independentes da sua ação política", pode ler-se, "mas a acusação é de corrupção no exercício de cargos políticos.
"Nada poderia ser mais político do que isso", conclui Vitor Malheiros, considerando que "a detenção de Sócrates lança uma imensa sombra sobre o PS e sobre a sua atual liderança".
A ausência de reações à prisão preventiva de José Sócrates entre a classe política é destacada no "DN", com o jornal a referir o "silêncio total" dos políticos e de todos os grupos parlamentares em relação a esta matéria.
Mas pergunta o "Diario Económico" em editorial: "Até quando resistirão o Governo, a maioria que o suporta e o PS à tentação de jogar politicamente com o caso?"
O "DN", também em editorial, considera que "choque é a única palavra adequada ao momento".
Depois de lembrar que "há uma tese do Ministério Público para a qual contribuiu uma longa investigação, na qual terão sido recolhidas provas que o juiz de instrução reputou de suficientemente sólidas para impor a prisão preventiva", o editorial defende ser "apenas isto que interessa", não "o que nós jornalistas e leitores, julgamos saber, porque sabemos só uma pequena parte".
Há outra notícia surpreendente.
O "Correio da Manhã" escreve sobre o almoço de Sócrates com Pinto Monteiro.
O mesmo almoço que o antigo Procurador-Geral da República afirma ter sido "inocente" e "apenas uma coincidência desagradável", mas que o jornal diz - titulando "Pinto Monteiro apanhado nas escutas" - ter sido um encontro que permitiu a José Sócrates avaliar a sua estratégia face à investigação que o visava, preparando-se para uma eventual detenção.
A atuação do ex-primeiro-ministro nos dias antes da detenção foi preparada ao pormenor, garante o "CM", assim como o seu pedido para acompanhar as buscas terá resultado do aconselhamento recebido nesse almoço.
Diz também o "CM" que a última viagem de Sócrates a Paris era para durar apenas 24 horas.
Acabou por se prolongar, havendo "suspeitas" de que a deslocação possa ter tido como propósito "transportar documentos".
Saber mais é preciso
Online, o director do Expresso, Ricardo Costa, enumera as 6 perguntas que precisam de uma resposta rápida neste caso, ao mesmo tempo que defende a importância de os prazos serem encurtados, "na medida do possível", de forma a sabermos rapidamente todos os contornos deste processo.
O "Observador" recorda que, "se a proposta de lei do enriquecimento ilícito tivesse entrado em vigor - foi chumbada pelo Tribunal Constitucional (TC) - caberia a José Sócrates e ao empresário Carlos Santos Silva provar a licitude dos seus bens e de gastos acima dos rendimentos auferidos".
O projeto lei aprovado em 2012 na Assembleia da República determinava a inversão do ónus da prova, ou seja, caberia à pessoa justificar o património "sem origem lícita determinada" e os gastos "incompatíveis com os seus rendimentos e bens legítimos".
Os socialistas foram, desde o início, contra este diploma.
Rui Ramos, também no "Observador", deixa a questão "Haverá vida para além de Sócrates?", uma reflexão sobre "como poderão os cidadãos confiar outra vez num regime cuja classe política não parece ter meios ou vontade para escrutinar e filtrar os menos idóneos"
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