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terça-feira, 18 de novembro de 2014

Salgado, assustou Costa: se fosse afastado do BES, seria o caos

17 de Novembro de 2014
Texto: Pedro Santos Guerreiro
Carlos Costa  falou em março com Ricardo Salgado sobre o seu afastamento do BES. O então presidente  executivo do banco avisou o governador de que, se assim fosse, as consequências seriam tenebrosas.

O afastamento de Ricardo Salgado do Banco Espírito Santo, se ocorresse em março, levaria "à liquidação desordenada do GES e intervenção do Estado para a recapitalização do banco", alertou o próprio líderr da família Espirito Santo em carta enviada ao governador do Banco de Portugal naquela altura, e a que o Expresso teve acesso. Mas não foi apenas este o alerta. Houve muitos mais.

A carta foi divulgada na íntegra este domingo pelo Expresso, no âmbito dos Ficheiro BES, uma iniciativa editorial em que o jornal disponibiliza aos leitores diversa documentação confidencial que serviu de basa a parte da investigação jornalística da redacção ao longo dos últimos meses.

A carta em causa é datada de 31 de março e começa por referir-se a uma conversa telefónica entre os dois responsáveis, ocor dias antes. Nessa conversa foi debatido o afastamento dos membros da família Espirito Santo da gestão executiva do BES. Não há referências ao estatuto de idoneidade de Salgado.

Ricardo Salgado foi taxativo: o seu afastamento, se feito naquela altura, teria efeitos sistémicos. Salgado escreve estar disponível para uma mudança, mas recomenda que ela seja feita tranquilamento e mais tarde, depois do aumento de capital que estava então a ser preparado. "Não serei eu que por qualquer motivação pessoal dificultará essa desejável evolução", escreveu. Mas antes, listou as razões pelas quais a sua saída não poderia fazer-se de repente.

Sobre o BES, o primeiro risco seria precisamente o pôr em causa o aumento de capital que então estava em preparação. Além disso, havia o risco de clientes venezuelanos e angolanos a levantarem parte dos quatro mil milhões do BES que, em conjunto, detinham no banco. Poderia ainda haver uma corrida aos depósitros em Espanha. E uma nacionalização do BES Angola.

"Importantes clientes do BES, institucionais e internacionais (venezuelanos e angolanos) com relações pessoais com o GES, aplicam recursos avfultados no BES, sendo o valor medio das suas aplicações de quatro mil milhões de euros", escreve Ricardo Salgado. "Reflexo semelhante poderá ocorrer traduzindo-se em significativa saída de liquidez".

"Em Espanha poderá ser desencadeada um run-off dos depósitos por ter sido posta em causa a solidez e a confiança do nome Espirito Santo", prossegue.

Em relação a Angola, a garantia bancária concedida pelo Presidente ao BESA "foi em boa parte atribuída pela consideraçãoe confiança no Grupo Espirito Santo", sendo que "uma quebra imprevista nesse relacionamento poderá levar a uma nacionalização do BESA, com todo o impacto para o BES".

Os efeitos aconteceriam também no GES, segundo escreveu Ricardo Salgado: também aqui as consequências seriam dramáticas, desde logo por precipitar uma liquidação desordenada do grupo e uma intervenção do Estado no v«banco, que teria impactos "em Portugal, Suiça, Luixemburgo, Espanha, França e Dubai".

"Sem falsa modéstia, quero aqui recordar que o GES, principalmente o banco, tem a seu crédito uma longa história de serviço à economia do país", conclui Ricardo Salgado, que efectivamente sairia da administração do BES, mas só em julho e depois de uma confrontação com demais accionistas e com o Banco de Portugal.

A carta pode ser lida na íntegra no site do Expresso, nos ficheiros BES. O Expresso disponibiliza aos leitores documentos confidenciais que servciriam de base a grande parte da investigação jornalística ao caso Espirito Santo, ao longo dos meses. A iniciativa editorial abre a arca de fontes documentais para partilhar informação essencial com a comunidade, visando contribuir para o esclarecimento de um dos maiores escândalos financeiros de sempre.

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